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Embora utópica, anti-ecologica, colonialista, euro-centrica e imperialista, a megalomania de Herman Sorgel não deixa de me fascinar. Arquitecto Alemão nascido em 1885, Sorgel dedicou a maior parte da sua vida a um muito radical projecto de engenharia civil (e social) que previa a construção de uma barragem, que fechando o estreito de Gibraltar faria descer o nível das águas do mediterrâneo em mais de 100 metros, aproximando assim a Europa e a África. A este novo mega-continente, Sorgel deu o futurístico nome de Atlantropa.
Como projecto derivado, mas não menos ambicioso, Sorgel propunha-se ainda escavar um canal, que partindo da costa Egípcia, acabava no meio do Sahara, criando ali um enorme mar artificial cuja água uma vez evaporada daria origem a um clima de chuvas propício a prática da agricultura.
O projecto tinha dois objectivos principais. O primeiro, a conquista de território ao mar Mediterrâneo. Disso, resultaria a possibilidade de expandir a área cultivável e habitável da Europa, permitindo também unir a Europa a’ África através de um sistema de pontes rodoviárias e ferroviárias que ligariam o estreito formado entre a Sicília e a Tunísia. Com isto ficaria estabelecido um contínuo fluir de pessoas e bens por meios terrestres entre os dois continentes. O resultado seria um acelerar da europeização da África, o fácil acesso aos seus recursos, e a criação de um bloco económico capaz de fazer frente a América e a Ásia. O segundo objectivo era naturalmente o de criar uma fonte de energia quase ilimitada capaz de fornecer electricidade a todo o bloco promovendo assim progresso e desenvolvimento.
O “Project brief” não descrevia naturalmente o enorme impacto que o seu desenvolvimento teria no ambiente e no contexto geo político globais. Além de um levantamento global do nível das águas de alguns metros, este projecto teria consequências imprevisíveis nas sociedades europeias (nos dias de hoje a ponte da Sicília para a Tunísia seria testemunha de uma emigração em massa do Sul para o Norte) e sobretudo no aceleramento da destruição daquilo que restava na altura das culturas africanas originais (nos anos trinta quando Sorgel desenvolveu a sua ideia, a maior parte da áfrica estava ainda sob o domínio de regimes colonialistas europeus).
Considerando o impacto profundamente negativo que este projecto teria tido, temos que agradecer aos Nazis Alemães o facto de estes estarem mais interessados no leste Europeu que no continente Africano. Sorgel tentou variadas vezes receber a bênção do regime Nacional-Socialista sem grande sucesso. Conhecendo a paixão de Hitler pela arquitectura e pela megalomania, este era bem capaz de ter substituído Albert Speer por Herman Sorgel nas suas preferências e hoje poderíamos estar a viver as consequências de um dos mais perigosos projectos de arquitectura e engenharia jamais imaginado pelo homem. (Para não falar na forma como o regime Alemão da altura teria decidido proceder ao recrutamento da forca de trabalho necessária a execução do projecto…)
Por outro lado, e considerando o que se vai passando nos nossos dias, talvez pudéssemos ter como remédio para os males do mundo um projecto destas dimensões, que relançasse a economia global, o emprego e o tão discutido espaço mediterrânico. Mas os meus amigos mais liberais estarão já’ a abanar a cabeça por isso fico por aqui…
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