sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

IV. Les Indo-européens, Histoire, langues, mythes, Bibliothèque historique, Payot, Paris, 2005 Bernard Sergent

Façamos então o passeio turístico pela obra:
1) Como para Engels a superioridade dos brancos sobre os negros é evidente (40), o que mostra que o marxismo não foi fonte original do terceiro-mundismo, que é apenas uma das suas heresias; mais uma vez o que é esquerda e direita se mostra como distinção artificial. Também os radicais franceses (de “esquerda”) eram mais favoráveis à política de colonização que os monárquicos (de “direita”).
2) Grassmann (42), o grande matemático, como um dos colaboradores na indo-europeística, a mais matemática das ciências humanas; o que mostra mais uma vez que não há gavetas no saber; a indo-europeística tem sido o maior laboratório de ligação entre as ciências ditas humanas e as ditas exactas. Nesse sentido também e mais uma vez é exemplo a seguir pelas outras ciências, contra o bairrismo científico.
3) O paralelo entre as vicissitudes da física e da indo-europeística (54), paralelo este que é misterioso só em certo sentido. De forma mais discreta a indo-europeística padece hoje em dia dos mesmos males da física, a sua excessiva maturidade e hermetismo. Ambas sofrem de uma crise de meia-idade neste momento, com o que isto tem de mau e bom.
4) Velha Europa, conceito criado por Krahe (106), conceito técnico este e não o usado pelos jornalistas; o conceito de Velha Europa é fundamental para a Pré-História da Europa. E muito do seu substrato ainda poderá ser hoje em dia actuante, embora tenhamos de ser prudentes quanto a este aspecto.
5) Influência indo-europeia na China (115, 250), de onde se mostra que não existe uma fonte de civilização a Oriente e de que nós seríamos meros receptores. A tese “Ex Oriente Lux” ainda está no espírito popular de hoje em dia, na cultura mediana. Fala-se das antigas civilizações orientais, como se a nossa fosse recente, e esquece-se de até que ponto a história indo-europeia é a história de sucesso por excelência.
6) *pénkwe cinco e punho. O nosso corpo influencia os mais abstractos dos nossos conceitos.
7) *solwo Completo em boa saúde, “saluus”, “holos” em grego (259). O todo, a saúde, a solução e a salvação são conceitos correlatos. Quem afirma que não carece de salvação em suma afirma que não carece de saúde nem é capaz de viver o todo. Em suma, nada quer solucionar.
8) Sopa como carne ,ritualmente pura (264). Eis como a sopa tem história bem mais antiga e nobre do que se julga. Hoje em dia que se lembra que é boa para a saúde talvez nos faça reflectir que a ciência dita mais moderna retorna em suma a conhecimentos bem antigos.
9) *wid-tor- aquele cuja profissão é saber da história (293). O que investiga é o que vê. Por isso recusar a História é recusar a visão.
10) A circumambulação à volta do reino (299) os hititas, os citas, os irlandeses, os galeses, os escandinavos, os Capetos e as presidências abertas. Rituais velhos como o mundo que se dizem novos, mas que, como muita novidade mais não são que retornos.
11) *lawos- (302) povo em armas, o laico. Não é por acaso que os países laicistas são países de cerimonial militar. “Aux armes citoyens”. Países em permanente guerra.
12) Platão como indo-europeu (365), o horror ao escrito (416). Sergent tem consciência do parentesco entre Platão e os celtas. O Fedro é o melhor exemplo de como Platão é afim dos bardos e dos druidas.
13) Tornar-se deus igual a morrer (384) hititas, gregos, latinos - e ortodoxos. Toda a teologia da divinização do homem no mundo ortodoxo herdou desta fonte.
14) A literatura é muitas vezes religião preservada (387). Esta lição foi esquecida pelo mundo dito secularizado em que vivemos. O primeiro sintoma disso é a divinização da literatura. O passo seguinte é o desprezo pela própria literatura. Quando o bardo destrona o druida presta-se a ser destronado ele mesmo.
15) A circumambulação à volta de uma pedra (394-.395) a circulação à volta da Kaaba pode ter esta origem embora os semitas tenham a pedra a esquerda (sentido lunar) e não à direita (sentido solar) como os indo-europeus.
16) A Atenas do início do séc. V faz sacrifícios humanos (402); ou seja o grande símbolo do humanismo pode ser também exemplo de horror, como a Alemanha o demonstrou. Não há épocas ou culturas puras. E a Atenas de Péricles ainda tem a marca deste sangue. Talvez sem ele não pudesse ter criado as obras-primas que criou. A razão é criativa quando se confronta directamente com o horror. Ifigénia não surge por acaso.


http://www.clio.fr/BIBLIOTHEQUE/les_indo-europeens_des_parentes_linguistiques_aux_concordances_mythologiques.asp
http://www4.fnac.com/Shelf/article.aspx?PRID=998126
http://www.librairiehistoire.com/pays/inde/les_indo-europeens_.asp
http://www.amazon.fr/Indo-Europ%C3%A9ens-Bernard-Sergent/dp/2228889563
http://www.payot-rivages.fr/asp/fiche.asp?Id=4163
http://druuidiacto.forumculture.net/bibliotheque-f11/les-indo-europeens-par-bernard-sergent-t29.htm
http://forum.arbre-celtique.com/viewtopic.php?t=2379



Alexandre Brandão da Veiga

2 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Aqui ficar um exemplo de arte barata com a queda dos preços dos alimentos.

Anónimo disse...

Belas notas. O ponto 14 suscitou perplexidade: a querela é tão antiga, recua bem antes de Platão a colocar por escrito, para desgosto dos defensores dos bardos.
Se se refere à arte pela arte, isso já é outra história bem mais moderna.