segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

I. Les Indo-européens, Histoire, langues, mythes, Bibliothèque historique, Payot, Paris, 2005 Bernard Sergent


Nunca poderei salientar de forma bastante a minha admiração pela indo-europeística. Em muitos aspectos a mais bela das ciências humanas. Nela a fonética, a linguística em geral, a arqueologia, a História, a mitologia comparada, a antropologia, a literatura colaboram. Não há ciência que nela não tenha sido recolhida de uma forma ou de outra. Modelo do estudo de todas as restantes famílias linguísticas e culturais (apenas o estudo das línguas semíticas teve alguma autonomia, mas foi mesmo assim foi beber à indo-europeística), modelo do que a capacidade de construção intelectual humana pode fazer. Apenas na física encontro paralelos em que a largueza de vistas e a capacidade de confrontar o infinitamente pequeno com o infinitamente grande sejam equivalentes.

Recusar a ciência indo-europeia apenas porque houve o abuso nazi é o mesmo que recusar a física porque houve a bomba atómica ou a medicina porque houve Mengele. E no entanto é a ciência humana com pior fama na nossa época. Mais um dos símbolos de que a nossa época despreza mais que outras a inteligência e a sólida criatividade humana.

Um dos aspectos curiosos desta obra é o tratamento que faz do trifuncionalismo. Sendo um aderente à tese clássica de Dumézil faz a súmula dos avanços que se fizeram na análise trifuncional e mostra um campo que para mim era relativamente novo, o do estudo das origens deste trifuncionalismo.

Segundo a tese que defende, o trifuncionalismo tem origem social, como forma de resolução de conflitos sociais em sociedades dadas à cisão e ao agrupamento de novos componentes inicialmente hostis. O trifuncionalismo torna-se assim uma ideologia, não apenas de graduação, como muitas vezes se diz, mas igualmente de inclusão. Ironias da vida, pelo menos para alma jornalística da nossa época: a hierarquia permite incluir, é mesmo instrumento necessário para impedir a exclusão a longo prazo.

0 comentários: