I. Apagamento e intensificação
A ciência das coisas últimas. Escatologia. Palavra que sofreu em inglês evolução semântica simultaneamente estranha e expectável. Indo às coisas últimas atacamos sempre terreno estranho, e daí que “escatológico” em inglês assuma hoje em dia estatuto semelhante ao “pornos”, ao porco. É evidente que o Apocalipse é o texto mais incómodo de entre os canónicos. Era de prever que algum dia, mais tarde ou mais cedo, se prestaria a inspirar sentidos menos próprios. Mas o mundo quântico não é menos estranho para o mundo quotidiano e tem no entanto uma respeitabilidade social hoje em dia bem maior no espaço público.
Reconheçamo-lo: estranho seria que os átomos se ligassem entre si por ganchinhos, como certo materialismo superficial do século XVIII e início do século XIX supôs. Maxwell e Mach bem perceberam que essa visão era algo desprovida, e bem sabemos como os materialistas oficiais recusaram a noção de campo em física. Estranho seria que o mundo quântico tivesse as mesmas regras que o nosso mundo visível. Seria de desconfiar que escondesse estados ainda mais fundamentais. E quando o mundo quântico se vai tornando uma evidência, essa desconfiança cresce em relação ao próprio mundo quântico.
Num mundo que se recusa a pensar firmemente a estranheza, o que está fora do quotidiano, a não ser em aspectos parcelares, é natural que a escatologia tenha má imprensa. As coisas últimas, os fins últimos, os fundamentos últimos, o destino último. Tudo que o não admita mais avanço, porque é o suporte do próprio avanço, apenas pode assustar um pensamento que é timorato na sua base tanto que se manifesta no mal-estar e na displicência.
Uma cultura tem sempre de construir com as suas próprias forças a sua imagem do mundo. Pede emprestado, rouba, mas em última análise é a si que vai buscar, nem se seja à sua capacidade de diferir e sintetizar o que recebeu. E por isso, para o mal e para o bem, é junto da escatologia pagã indo-europeia e do cristianismo que encontramos as forças para pensarmos essas coisas últimas.
Mas as coisas últimas assustam e por isso a turba foge delas, cultivando o que julga ser relativismo, e julgando esse relativismo sustentado por um pensamento verdadeiramente abstracto.
Reconheçamo-lo: estranho seria que os átomos se ligassem entre si por ganchinhos, como certo materialismo superficial do século XVIII e início do século XIX supôs. Maxwell e Mach bem perceberam que essa visão era algo desprovida, e bem sabemos como os materialistas oficiais recusaram a noção de campo em física. Estranho seria que o mundo quântico tivesse as mesmas regras que o nosso mundo visível. Seria de desconfiar que escondesse estados ainda mais fundamentais. E quando o mundo quântico se vai tornando uma evidência, essa desconfiança cresce em relação ao próprio mundo quântico.
Num mundo que se recusa a pensar firmemente a estranheza, o que está fora do quotidiano, a não ser em aspectos parcelares, é natural que a escatologia tenha má imprensa. As coisas últimas, os fins últimos, os fundamentos últimos, o destino último. Tudo que o não admita mais avanço, porque é o suporte do próprio avanço, apenas pode assustar um pensamento que é timorato na sua base tanto que se manifesta no mal-estar e na displicência.
Uma cultura tem sempre de construir com as suas próprias forças a sua imagem do mundo. Pede emprestado, rouba, mas em última análise é a si que vai buscar, nem se seja à sua capacidade de diferir e sintetizar o que recebeu. E por isso, para o mal e para o bem, é junto da escatologia pagã indo-europeia e do cristianismo que encontramos as forças para pensarmos essas coisas últimas.
Mas as coisas últimas assustam e por isso a turba foge delas, cultivando o que julga ser relativismo, e julgando esse relativismo sustentado por um pensamento verdadeiramente abstracto.
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