terça-feira, 4 de novembro de 2008

O que Maomé não diz do toucinho



Ontem, na SIC notícias, Bagão Félix disse mais ou menos o seguinte (cito de memória): «desde a criação do Euro, o Banco de Portugal só serve para duas coisas: fazer previsões macro-económicas e assegurar a supervisão bancária. Nas previsões falha sempre, na supervisão parece um carro-vassoura, chega sempre atrasado».

14 comentários:

Sofia Rocha disse...

Aliás, ontem o serão televisivivo, foi só toucinho: muita pele, muita gordura, e pouca carne. Achei indigesto.

Inez Dentinho disse...

O ponto é saber se Bagão tem razão. Não fiquei a saber o que pensam.
Acho que o ex.Ministro das Finanças ainda não digeriu a previsão Constâncio de défice 2005 em 6,8%, realizada em Junho, sem a expectável intervenção orçamental. Bagão Félix foi o primeiro a lembrar isso o que lhe pode turvar a simpatia pelo Governador do Banco de Portugal. Mas turvará o raciocínio?

Unknown disse...

Inês,
Em consciência acho que não turva. A motivação do ataque é óbvia mas isso não lhe retira pertinência. NO BPN como no BCP o mínimo que se pode dizer é que o BP não fez o que lhe competia.

Freire de Andrade disse...

Inês,
Atenção, muito importante: Constâncio não previu para o défice de 2005 o valor de 6,8%, mas sim o de 6,83%. Só este facto, uma previsão tão precisa que chega a ser ridícula, é um atestado da pouca precisão do trabalho do BDP. Claro que é um pormenor, mas significativo.

Inez Dentinho disse...

Caros Pedro e Freire de Andrade,
Em dois comentários se apura o zelo, por defeito e por excesso; por distracção ou por alinhamento. Tantos séculos que a nossa civilização perdeu para conquistar a separação dos poderes executivo, legislativo e judicial para, por nova arrumação de papéis, tudo o resto - que é muito - parecer decidir-se numa arrumação dos partidos.

Anónimo disse...

Vamos lá ver se eu percebo esta coisa da inépcia do Banco de Portugal na supervisão bancária... Um gang engravatado senta-se nos cadeirões da administração de um banco - e faz aquilo que não deve: a culpa é do Banco de Portugal. Quer dizer: um ladrão rouba a carteira a um passageiro do eléctrico 28 e a culpa é da polícia que não o prendeu antes. O dr. Bagão Félix, que até é um estimado benfiquista, devia saber que o Banco de Portugal nem sequer tem acesso a contas bancárias, sejam elas quais forem, quando fiscaliza um banco. A lei impõe restrições severas às acções de supervisão. Se o gang engravatado esconde informações, os inspectores não podem abrir gavteas. É assim desde sempre. Quando Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite trabalharam porficuamente no Banco de Portugal já era assim. Quando o primeiro-ministro Cavaco nomeou não sei quantos governadores do Banco de Portugal também era assim - ao ponto de o 'supervisor' não ter dado pela negociata de José Roquete, então dono do Totta, com Mário Conde, do Banesto. E mais não digo, que me aborrece...

Anónimo disse...

Meus caros amigos,
Saúdo o post do Pedro Norton e o debate de Sofia, Inez e Freire, lamentando o anonimato do outro participante, sempre tive ‘asco’ a este coisa de anónimos – no mundo académico, na política ou na vida.

Deixo aqui também um pequeno contributo.

Vitor Constâncio foi um governador do Banco de Portugal que adormeceu no cargo, não exercendo as importantes funções de regulação que lhe estão confiadas.

Foi assim com o BCP, foi assim com o BPN.

Um governador que apenas foi diligente, quando teve que servir de comissário político de um primeiro-ministro que vinha de uma maioria absoluta, e que precisava de um expediente para fazer tudo ao contrário do que tinha prometido.
Foi assim, que nasceram os 6,83%. Esse défice de prodigiosas e criativas contas.

Foi o momento em que esteve acordado, mas para fazer o que não lhe competia.

O bom desempenho do governador do Banco de Portugal é vital para a confiança dos agentes económicos no sistema financeiro, em particular, no momento complexo e de incertezas em que vivemos.

Num momento onde a confiança é um dos recursos que mais precisamos.
Talvez por isso, é hora, do Governador do Banco Portugal mudar de vida. Por que assim, assim não dá, mesmo!

Louve-se Miguel Cadilhe, pela coragem, lucidez e firmeza com que tentou salvar o Banco, mas também pelo seu objectivo projecto de recapitalização.

Ainda vai haver Presidente da República, vamos ver se Cavaco promulga esta lei. Vamos ver!

Ricardo Campos
ricardo@riportico.com

Anónimo disse...

Ó dr. campos, valha-o Deus! Diz que o dr. Cadilhe, com coragem, firmeza e lucidez,tentou salvar o banco. Ou você não sabe do que fala ou está a fazer-nos de parvos. Saberá, porventura, qual era o lúcido plano do dr. Cadilhe para salvar o BPN? O estado injectava a bagatrela de 800 milhões de euros para dar liquidez ao banco - e assim, sem mais nem menos, o Estado ficava sócio dessa recomendável instituição.

António Salvador

Anónimo disse...

Caro António Salvador,

Não sou Dr. Sou Eng. Civil. Mas trate-me por Campos ou Ricardo Campos.

Queira acreditar que não pretendo atirar nenhuma areia para os olhos de ninguém.

Apenas dizer que considero correcta a forma como Miguel Cadilhe apontou os culpados, entregando provas dos actos ilicitos, não tapando o sol com a peneira, no sentido de ficar bem clara a dimensão dos problemas que há muito deveriam ter sido detectados por uma instituição denominada por Banco de Portugal.

Cadilhe queria abrir espaço para um novo tempo no banco, ao qual emprestaria a sua competência e saber, iniciando um novo percurso na vida daquela jovem instituição financeira.

O problema é que andam por aí alguns a tentar ressuscitar Marx, apontando o dedo ao Mercado, que agora mais parece o demónio!!!

Acredite que não deve ser esse o caminho.

O sistema de regulação revelou falhas. Revelou falhas em Portugal, mas também no Mundo, em alguns pontos (como os EUA) de dimensões bem maiores que a nossa.

Mas é aprendendo com os erros que podemos melhorar a regulação dos sistemas financeiros, promovendo uma vigilância mais apertada da vida das instituições financeiras.

Não vinha mal nenhum ao Mundo, se Sócrates se irrita-se menos e pensa-se mais, poderia ter entendido que não iria haver pânico nenhum, se o Estado com o dinheiro dos contribuintes compra-se posições accionistas que depois poderia vender mais tarde, quando o banco regressasse a tempos de estabilidade.

Mas agora que a imagem do Mercado está em crise, o que interessa mais é defender o contrário. E lá vem esta ideia que tão maus resultados deu no Mundo, a do Estado glorificado, todo poderoso, que controla tudo, e do qual tudo depende.

Vide Gordon Brown, será que deitou areia para os olhos do povo inglês quando optou por este caminho.

Vamos ver o que faz Cavaco Silva, que se fosse PM, tenho dúvidas que fizesse o mesmo caminho.

A ver vamos...

Ricardo Campos

Anónimo disse...

Meu caro eng.º Campos, ainda não percebu que o plano do dr. Cadilhe para salvar o BPN era irreal. Só lhe restava salvar o banco com o dinheiro dos accionistas. Ele ainda tentou convencê-los a injectar dinheiro, mas não foram na conversa. Queria o quê? Deixar o dinheiro dos depositantes ir na enxurrada? Mas fique descansado que o Governo não segue a cartilha de Marx. Vai que o banco, depois de saneado, será colocado à venda.

António Salvador

Anónimo disse...

orsciMeu caro eng.º Campos, ainda não percebu que o plano do dr. Cadilhe para salvar o BPN era irreal. Só lhe restava salvar o banco com o dinheiro dos accionistas. Ele ainda tentou convencê-los a injectar dinheiro, mas não foram na conversa. Queria o quê? Deixar o dinheiro dos depositantes ir na enxurrada? Mas fique descansado que o Governo não segue a cartilha de Marx. Vai que o banco, depois de saneado, será colocado à venda.

António Salvador

Anónimo disse...

Cavaco Silva acaba de promulgar a nacionalização do BPN. Se dúvidas houvesse...

Anónimo disse...

Não quis comprar outra guerra com Sócrates, já chega os Açores.
Não ouvi os seus comentários, mas tenho quase a certeza de que se fosse ele o primeiro-ministro não iria por aqui.

Presumo que o anónimo seja o amigo António Salvador.

Ricardo Campos

Anónimo disse...

Isto é que é ter fé em Cavaco Silva - o homem que, como Presidente da República, está a consentir na maior pouca-vergonha da democracia