Lisboa e o seu porto
Sou insuspeito: gostei do último artigo de Miguel Sousa Tavares no Expresso e não vou votar António Costa. Mas esta luta contra a expansão dos terminais de Alcântara parece-me totalmente descabida. Vi umas fotografias áreas mandadas publicar pela empresa em causa e achei normal o que querem fazer.
Queremos Lisboa como? Para turistas? Eu não. O turismo é uma actividade justa e necessária e todos um dia o somos. Mas é uma actividade altamente consumidora do meio ambiente, desde os aviões ao espaço que ocupa, até à descaracterização das áreas que lhe são dotadas.
Lisboa precisa de um porto e de um porto a crescer. Precisa de actividade económica deste tipo. Lisboa é um porto e será sempre um porto e quanto mais porto melhor. Para além disso, este tipo de investimentos pode ser usado para se exigirem contrapartidas para melhorar as áreas envolvidas. E também se pode exigir que façam as obras à suíça, sem mexer muito com o dia-a-dia de quem frequenta a zona. O processo terá sido seguramente mal conduzido. Então, que Miguel Sousa Tavares use o seu poder mediático para que os negócios sejam melhores para Lisboa. Isso sim seria um bom serviço. Mas não façam de Lisboa uma cidade de turistas. Não há pior nos dias que correm.
Não sou muito de petições, mas recomendo os argumentos de uma petição sobre isto, citada neste blog.
10 comentários:
Caro Pedro Lains,
Ninguém quer uma Lisboa só para turistas. As pessoas que se opôem à expansão do terminal acham, simplesmente, que ele poderia ser melhor aproveitado para outras actividades - cruzeiros, náutica de recreio, lazer.
Não me parece que seja pedir muito - antes de se dilapidarem fundos públicos, estudar a melhor aplicação a dar-lhes.
Temos um precedente próximo: a Ota.
Estou de acordo com o Pedro. Não somos a Havana de Baptista. O primeiro porto global não não pode ficar reduzido a um largo recreio para, como diz Luís Serpa, cruzeiros, náutica e lazer. Desde que não subam a altura dos contentores, gosto de ver o dinamismo de quem trabalha no porto, bem desenhado por Almada Negreiros, como um guetto de varinas e estivadores. Esse porto também é deles.
Mas toda a história peca pela concessão, sem concurso, ao compadre J. Coelho. Como podem ser mais burros do que desonestos?
Cara Inez Dentinho,
a) Lisboa é o primeiro porto nacional, não global. Penso que é a Lisboa que se refere;
b) O porto de Lisboa é constituído por:
Carga
- Contentores de Alcântara
- Multipurpose de Lisboa
- Contentores de Santa Apolónia
- Multiusos do Beato
- Granéis alimentares do Beato
- Multiusos do Poço Bispo
- Alhandra (Iberol)
- Alhandra (Cimpor)
- Granéis alimentares da Trafaria
- Granéis alimentares de Palença
- Seixal (actualmente desactivado)
- Barreiro
- Líquidos da Banática
- Líquidos do Porto Brandão
- Líquidos do Porto dos Buchos
- Marítimo de Porto Brandão
- Granéis líquidos do Barreiro
- Cais avançado de Alcântara
Cruzeiros
- Rocha Conde de Óbidos
- Alcântara
- Santa Apolónia
Docas de recreio
- Alcântara
- Belém
- Bom Sucesso
- Santo Amaro
Não ampliar Alcântara, ou utilizar Alcântara para aquilo que é bastante mais apropriado do que contentores, não me parece que seja transformar o porto de Lisboa num "largo recreio".
"Como e para que serve Portugal?
Escrito por Nuno Cavaco
Na iminência constante da desordem do mundo, importa entender os sinais. Atender aos sinais e às suas expressões não levará também a entender toda a expressão dos corpos, a saber ler os caracteres que os constituem, isolados ou agrupados? Assim parece vislumbrar-se o caminho para o conhecimento do que condiciona e favorece a relação entre dois meios. Procuremos pois descobrir os mecanismos de equilíbrio no contacto entre duas inércias; no trânsito da vida, firme-se o ritmo das estruturas ligando os pólos e garantindo as permeabilidades; com o sentido da verdade, demandemos então o verso e o reverso daquilo que nos indica o caminho.
Atender às grandes questões que potenciam o ordenamento do território, face aos desafios internacionais emergentes, torna pertinente e urgente a dedicação, o estudo e a actuação em torno da importância da logística na definição dos fluxos e dos estabelecimentos que caracterizam a vida que do homem pende. Neste sentido, a conformação do orbe e da urbe reflecte a atitude de defesa, e ataque, perante potenciais reordenadores e desordenadores. Essa atitude tem suas expressões nos elementos físicos definidores de espaços e condicionados pelos tempos.
Não foi no povo português que, por circunstâncias diversas, convergiram os conhecimentos das estrelas dos céus, e das marés, e das correntes dos mares, e das formas da terra e dos ventos dominantes, e a quem, então, coube a responsabilidade de promover um novo desenho de rotas que abriria uma nova escala de relações entre todos os povos da terra? Neste sentido, fiéis à civilização que a tradição nos lega, se procurarmos entender as características das charneiras ordenadoras do novo desenho global, as polaridades dos novos rumos e os nexos dos novos fluxos, actuando, depois, em conformidade, não estaremos a contribuir para que Portugal permaneça actual e responsável, servindo no concerto das nações?"
Em:
http://www.leonardo.com.pt/revista1/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=32
cónio.
Mas cuidado com o socialismo... O socialismo, por natureza, arrogante, senhor de todas as verdades, inevitavelmente tirano, gerado por medrosos e gerador de medos, deve ter alguma na manga.
O socialismo é factualmente de origem continental, e de concepção determinista impõe a regra à ordem do mundo com soberba. Ramifica, bebe, embebeda-se dos interesses e determinações que mais servem às potências continentais. Então, que gato escondido de rabo de fora é este?... Porque à primeira vista o gesto de ampliação do Porto de Lisboa parece servir os interesses do "Portugal dos Portos"... Deixemo-nos de bonitos e façamos o certo... "É bela a Paisagem que está certa" e "o turismo é a prostituição do espaço". (Entre aspas são frases emblemáticas que traduzem o conhecimento inesgotável, fecundo e incontornável sobre o assunto do Arquitecto-paisagista Álvaro Dentinho .)
Cónio.
Lisboa tem vocação de ser porto. E este projecto é importante para manter essa vocação.
Em muito pouco tempo as capacidades oferecidas pelo Terminal de Alcântara e pelo de Santa Apolónia deixarão de ser suficientes para o crescimento do mercado.
Santa Apolónia tem limitações naturais que dificultam o seu desenvolvimento. Alcântara é a solução natual.
À margem sul - Trafaria - falta-lhe o comboio e implicaria todo o movimento (leia-se os contentores) atravessar as pontes sobre o Tejo pois o mercado está essencialmente na margem norte.
Haveria também a opção Cruz Quebrada, junto à CRIL e à CREL, mas na ligação ferroviária a solução passaria por usar a linha de Cascais, ie teriam que ser feitas as mesmas obras no nó de Alcântara que estão previstas no projecto em discussão.
É verdade que no meio deste processo há a falta de concurso público. É a sua fragilidade!
Por último, convém lembrar a quem quer 'ver-se livre' dos contentores que é neles que vem muito do que compramos, muito do que comemos, etc. 'Livramo-nos deles' e mandamo-los para longe, mas pagamos cada metro de distância em cada loja, em cada supermercado...
A cidade também é o porto, e do porto vivemos todos nós, a cada momento da nossa vida.
Eu de portos não percebo nada! Sou apenas um velho capitão da Marinha de Comércio já reformado. Apesar de conhecer todos os grandes portos do mundo, pouco sei sobre o assunto. Ainda assim, aplaudo a ampliação do terminal de contentores em Alcântara. Mas, como disse, eu de portos não entendo patavina. Parece-me - pela experiência - que Alcãntara é a melhor solução: quanto mais longe da barra, num rio como o Tejo com um canal de navegação estreito, maior o risco de acidentes. Mas, como digo, de portos sei muito pouco: não sou como o escritor Miguel Sousa Tavares, e tantos outros que seria fastidioso enumerar, que sabe tudo e fala sobre tudo. Eu apenas sei governar navios. E, por dever do ofício, conheço os porto sdo mundo.
António Vedoria Salvador
Escrevi aqui uma resposta ao comentário do Senhor Comandante António Salvador e, ou por lapso meu, ou lassitude do autor do post ele não aparece.
Tento de novo: se fôr a primeira a razão talvez consiga não repetir o erro; se fôr a segunda pode sempre o autor mandar o comentário para onde mandou o outro.
Nesse comentário, que não conseguiria, ainda o quisesse, reproduzir fielmente, dizia basicamente que:
a) o facto de ser Comandante da Marinha Mercante não valida automaticamente a opinião do Senhor Comandante; eu também sou (ou fui) oficial da marinha mercante e sou contra a ampliação do terminal;
b) o facto de Miguel Sousa Tavares não ter uma experiência profissional ligada aos portos ou ao mar não invalida a sua opinião: esta decisão tem uma componente política tão, ou mais importante do que a componente técnica, e deve ser discutida em respectiva sede;
c) o facto de tanto o Senhor Comandante Salvador como eu termos experiência de portos não torna as nossas opiniões mais válidas de um ponto de vista técnico. Viajo cerca de 15 a 20 vezes por ano de avião e isso não me habilita a gerir aeroportos nem, Deus nos livre, a pilotar aviões.
Este projecto é absurdo e deve ser combatido. Mas mais do que isso, muito mais, deve ser debatido - e é graças a Miguel Sousa Tavares que ele o está, finalmente, a ser.
Se me permitem, é só para lembrar ao sr. Luís Serpa - não sei se 2.º ou 1.º oficial - que eu, na qualidade de capitão do navio, me servi dos portos: não era um mero passageiro. É certo que o sr. oficial Serpa, como passageiro de avião,não está habilitado a ajuízar sobre obras aeroportuárias - ao contrário de um experiente piloto comercial que conhece os aeroportos do mundo. Eu não sei o que o sr. oficial Serpa sabe de portos. Mas, com humildade admito, saberá muito mais do que eu - que não fiz outra coisa, durante 40 anos, a não ser conhecer portos e, por isso, não tive muito tempo para estudar tão complexos dossiers. Abençoado país voltado para o mar que tem oficiais da Marinha Mercante como o sr. Serpa.
António Vedoria Salvador
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