segunda-feira, 3 de novembro de 2008

VÃO AO PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA


Por pudor ou preguiça, tenho-vos poupado ao anúncio do longo programa 2008 da Comissão D. Carl0s - 100 anos, evocativo da vida e obra do monarca quando passa um século sobre a sua morte. Tem sido um percurso extraordinário que me ajuda a conhecer melhor o actual regime, o Povo de sempre, o equilíbrio das potências da época, o tamanho do esforço e a fragilidade do momento. Quisémos dar a conhecer a história desse reinado, sem adjectivos nem omissões tão comuns à propaganda das III Repúblicas e antes da euforia desenhada no programa de Vital Moreira para o Centenário da República, agora arrefecida pelo sopro de Cavaco Silva e pelos avisos do Cardeal Policarpo na Homilia de 1 de Fevereiro de 2008.

A exposição sobre a vida do Rei, (co-autoria de Rui Ramos) esteve nos moopies do Terreiro do Paço durante todo o Inverno e circulou depois pelo País acompanhada por conferências, debates e passagens de documentários sobre a época (agora em Viseu, para a semana na Golegã). Estivemos, por exemplo, na Faculdade de Ciências de Lisboa onde o anfiteatro foi pequeno para ouvir Carlos Reis e ver o filme do Museu do Mar sobre as campanhas oceanográficas do Rei; organizámos o primeiro congresso internacional sobre os Mares da Lusofonia, tendo convidado especialistas de todos os países que falam português a discutirem os actuais desafios das suas imensas Zonas Económicas Exclusivas (haverá Jornadas D. Carlos de 2 em 2 anos); honrámos a memória deste Chefe de Estado morto em funções a 1 de Fevereiro de 1908, no Terreiro do Paço, com silêncio, flores, uma oração e o toque de corneta de três bombeiros (já que Nuno Severiano Teixeira proibiu este ano a habitual presença do Regimento de Lanceiros e do Colégio Militar, dos quais o Rei era Comandante honorário); estivemos no Open do Estoril e em múltiplas provas de desportos praticados e/ou inaugurados por D. Carlos em Portugal, como o ténis ou o futebol; divulgámos os dotes artísticos do Rei e as suas qualidades como gestor da imensa casa agrícola que herdou hipotecada, ainda como Duque de Bragança, e que soube transformar num exemplo extraordinário de gestão empresarial com lucros ainda hoje colhidos pela Fundação da Casa de Bragança.

Mas foi o Chefe de Estado, o diplomata e o político que mais me impressionou neste ano de eventos que termina em Janeiro de 2009 (com um novo ciclo de conferências organizado em parceria com a Universidade Católica Portuguesa).

Esse perfil está agora mesmo a ser discutido, com o maior interesse, no colóquio anual da Comissão Portuguesa de História Militar, no Palácio da Independência, em Lisboa. Até ao fim da semana, ali se dá a conhecer a ordem internacional daquela época que dobrou mal a esquina do novo século e assim viria a sofrer duas Guerras Mundiais. Por ali se descreve, de forma estruturada e sem calores, a geo-estratégia europeia em África, a influência da Guerra Hispano-americana na gestão de novas alianças que ajudaram Portugal; o sucesso das lanchas canhoneiras nos territórios ultramarinos; o perfil do nosso diplomata Soveral; o sucesso do contacto pessoal do Rei com o Presidente francês, o impassível Kaiser, o miúdo espanhol ou o já velho Príncipe herdeiro inglês. Uma série de boas conferências devolve-nos a realidade das campanhas africanas, o poder da imprensa ou, helas!, o impacto da crise financeira provocada também pelo excesso de endividamento que as grandes obras públicas do fontismo anterior provocaram à geração vindoura. Não percam.

2 comentários:

Anónimo disse...

Morreu o rei, viva o Presidente!

JP Guimarães disse...

E Nuno Severiano Teixeira justificou a proibição?