quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Álvaro Siza ao DN


Alguns comentários a propósito da entrevista de Álvaro Siza Vieira ao Diário de Notícias de Domingo.

1. A sobreposição dos interesses do Estado (que não deveria ter interesses e muito menos encapotados) à livre concorrência quando “inventa” concursos públicos por obrigação de procedimento legal mas atribui as vitórias a quem previamente convidou para ganhar. Nunca se poderá provar. A não ser que os coniventes falassem (denunciassem) coisa que no seu interesse próprio nunca farão. Lembro-me de pelo menos três concursos em que à boca pequena se dizia para quem estavam destinados, o que mais tarde se confirmou. Avisar antes poderia ser condicionar os resultados e abrir um terrível precedente para futuros casos ou instalar uma suspeição constante e fácil sobre todos os concursos. Denunciar depois seria sempre mau perder.

Nos tempos que correm ter uma obra de um arquitecto internacional é como ter uma loja internacional num Centro Comercial. O interesse do mundo deixou de ser a diferença entre culturas e tradições para passar à pretensão de ter o mundo todo num mesmo lugar, o que resulta em tudo em todos os lugares, e que por fim é: tudo igual a tudo.

A perversão atinge os próprios arquitectos – estrelas. Já ninguém se interessa pelo arquitecto em si ou pelo projecto em si. Governantes e autarcas incultos e deslumbrados só querem uma coisa: uma assinatura que ponha os seus países ou as suas cidades no mapa. O que parece uma boa ideia feito uma vez, torna-se num pesadelo saloio para o poder, caro para o contribuinte e vazio para o próprio arquitecto.

2. Álvaro Siza é um caso que pode exemplificar uma forma diferente de ser arquitecto internacional. Tem como poucos a capacidade de se imbuir das culturas locais. Não deposita objectos aleatórios em paisagens indiferenciadas. Tendo aceite de uma forma comedida fazer projectos fora de Portugal, tem-nos feito sem corromper o seu trabalho e tem acrescentado valor e qualificação aos lugares onde intervém. Talvez porque, ao contrário de outros arquitectos do star system, a que Siza pertence por reconhecimento dos seus pares, o seu trabalho fora de Portugal teve sempre uma contextualização disciplinar que resulta da sua própria investigação e caminho dentro da arquitectura e do urbanismo. Disso resulta menos espectacularidade e mais arquitectura no sentido antigo de “fazer cidade”.

Habitação social na Alemanha e na Holanda onde Siza compreendeu os lugares e a sua tradição, tornaram edifícios, que pelo seu tema / programa seriam menos espectaculares, em obras de referência e em reflexões contemporâneas sobre a própria história e o destino da arquitectura. Intervenções no espaço público como em Lisboa (Chiado), Madrid (Paseo del Prado) e agora Milão (Avenida Sempione) são intervenções que fazem do arquitecto um intérprete cuja inteligência se dilui na obra que o público reconhece e a história assimila. Bem diferente das vedetas que criam objectos que, passado o efeito surpresa, se vão tornando obsolescentes e até maçadores.

Vale em Siza uma característica: a simplicidade e contextualização do exterior dos edifícios vs uma surpreendente concepção espacial no interior. Não será essa uma das grandes qualidades da arquitectura? Não será isso que nos surpreende no Panteão de Roma ou na igreja de S.Carlo alla quatre fontanni de Borromini também em Roma?
A afirmação internacional de Siza é a afirmação de uma cultura de resistência disciplinar.

3. Outra questão posta por Álvaro Siza é importância da legislação, do ordenamento do território, por exemplo (como da legislação em geral), para combater a arbitrariedade do gosto e dos interesses isolados sobre o espaço público ou do espaço enquanto património de uma comunidade. De facto, a questão do gosto não é contornável pela legislação. O gosto forma-se pelas tendências naturais e pela educação que ensine a ver e a fazer. Mesmo assim, será difícil e indesejável uma unanimidade. O gosto é sempre uma posição de maiorias dentro de grupos circunscritos. Pode falar-se no gosto dos decoradores, dos arquitectos, como pode falar-se do gosto entre outros grupos, por exemplo, sociais. O gosto funciona como um código de reconhecimento na relação biunívoca do indivíduo com o grupo e, por isso, é sempre dominado por maiorias dentro desses grupos.
A lei, o Direito, sobrepõe-se a esses grupos e a esses consensos circunscritos, garantindo um interesse geral que está para além do tempo e pode garantir uma unidade cultural, tradicional e até civilizacional que os interesses imediatos do dia-a-dia não podem, por si sós e pela sua natureza imediatista, fazer prevalecer.

4. Uma quarta questão posta por Álvaro Siza foi a do tempo de estudo que os projectos de qualidade exigem. Siza sabe que a facilidade, o jeito, até o talento, não dispensam uma reflexão que está para além do objecto arquitectónico. De algum modo está implícita uma reflexão filosófica que se realiza na história e na tradição —reflexão sobre o lugar — e no sentido da actualidade — que é uma reflexão sobre o tempo. A assimilação de que Siza fala e que mesmo nas rupturas (rupturas feitas com oportunidade e não a ruptura por preconceito de mudança geracional) acabam por se reintegrar na continuidade que a arquitectura sempre representa. De algum modo a arquitectura é sempre uma vitória do espaço (lugar, presença) que fica sobre o tempo que passa. Ficar é a prova da continuidade. A disciplinaridade é a resistência e a perduração do essencial.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que é a arquitectura?
Como pode um comunista deter tantas qualidades de arquitecto como querem continuar a atribuir-lhe?
Siza manipula a matéria com habilidade mas não oferece às pessoas o ordenamento dos espaços e dos tempos estimuladores da vida. Siza não entendeu a vocação dos sítios, destruiu aptidões, e dificultou a vida de quem detem a responsabilidade e o orçamento de manutenção das obras de seu gesto.
Siza é um propositor de cenários pornográficos, no sentido em que propõe desejos utópicos. Siza propõe cenários paradisíacos ao fundo de túneis claustrofóbicos, e barra-lhes o acesso com telas invisíveis. Propõe ecrãs que seduzem a vontade de lhes aceder, e estanca o acesso para lá da moldura do respectivo quadro cénico.
A obra do Siza constitui-se cara, apresenta-se efémera e representa uma falsa simplicidade.

A ordem internacional que fique com ele!... Fora com o Siza.

João, que veneração é essa?
Deixa-te de perder tempo com salamaleques ao comunismo e materialismo e recupera e propõe antes os cânones do que deverá constituir a regra da nova Arquitectura Portuguesa.

Nuno C.

Anónimo disse...

E voce é um grande palhaço, frustrado e certamente sem obra digna!
Ao criticar o siza usando tb as opções politicas do mesmo revela-se como um fachista prepotente, alêm de revelar ter péssimo gosto no que diz respeito á arquitectura.
Aposto que não passou de um aluno mediano/ mediocre e como arquitecto terá as mesmas capacidades, o que o remete para um universo muito, mas muito inferior relativamente ao Siza. Tenho curiosidade para saber quais serão as referências de algêm que critica um arquitecto como Siza Vieira.
E o que é isso da nova arquitectura portuguesa? a nova é a que se faz hoje! A que o Siza faz todos os dias e outros tantos por este país... e seja ela qual for será sempre filha do Siza por mais que nos tentemos afastar, como um filho adolescente e ignorante se tenta afastar dos pais, levaremos sempre os genes daquele que é um dos melhores arquitectos de sempre e cujas permissas de projecto nunca deveriam ser esquecidas.

"...salamaleques ao comunismo..."...voce é um palhaço!