segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A lenda do minotauro (I)



A lenda do minotauro, na história dos portugueses, imediatamente remete para o episódio em que João Lourenço da Cunha, depois que el-rei D. Fernando lhe roubou a belíssima Leonor Teles, com quem era casado, decidiu passar-se a Castela, onde em todo o lado se apresentava brasonado de minotauro, ostentando na cabeça duas grandes hastes doiradas.
A lenda, obviamente, diz muito para além disto e merece bem ser conhecida por si mesma. Não cabendo aqui transcrevê-la, porém, e nem sequer resumi-la, realçarei, em dois breves posts, alguns dos seus aspectos que talvez mais possam interessar.
O herói da história é Teseu, que em criança foi educado por Ethra, sua mãe, no palácio do seu avô, o rei Piteus, na velha cidade de Trezena. O seu pai, o rei Egeu, vivia na Ática, em Atenas, a qual governava e, por isso, não podia abandonar, pois um monarca tem o dever de cuidar sempre do seu povo.
Enquanto crescia, Teseu perguntava muitas vezes pelo seu pai, que nunca vira e muito desejava conhecer. A sua mãe, no entanto, não o deixava partir e dizer ao rei Egeu quem era – de todos o seu maior anseio –, enquanto não fosse suficientemente crescido e capaz para uma tal jornada.
Todos os dias perguntava Teseu a sua mãe quando poderia partir, menino ainda que era. Um dia ela disse-lhe que quando ele fosse capaz de levantar a pesada pedra onde estavam sentados, conversando, consentiria em deixá-lo partir para Atenas para dizer ao pai quem era.
Era a tarefa de um gigante. No entanto, dia após dia ele o tentou, até que, passados anos, chegou o momento esperado e a enorme rocha cedeu ante os esforços de Teseu. Ethra ficou muito triste por ver que tinha chegado a hora de se separar do seu filho muito querido, mas percebendo que nada mais podia fazer, entregou-lhe uma espada com um punho de ouro e um par de sandálias que o rei Egeu lhe tinha deixado debaixo daquela pedra, quando, anos antes, a levantara com os seus poderosos braços, colocando-a no local de onde agora Teseu a retirava.
No longo caminho até Atenas, que percorreu com as sandálias de seu pai, viveu muitas aventuras, e muitos foram os salteadores e os bandidos que, empunhando a sua espada, derrotou, sem piedade, de tal maneira que a fama da sua coragem e do seu carácter chegou a Atenas antes dele. Aí, porém, os sobrinhos do rei, com medo que este agora o preferisse, esquecendo-se deles, preparam-lhe uma armadilha, apresentando-o como um traidor que vinha para o matar.
O rei, encolerizado por tamanha afronta, ordenou imediatamente que o prendessem e o matassem, embora sentisse, ao olhá-lo nos olhos, algo estranho. Parecia sentir que aquele homem era bom e justo, mas era confuso o que sentia. E foi já no último instante, ao ver a sua própria espada, que reconheceu o seu filho, o qual logo abraçou, banindo para sempre os verdadeiros traidores. Os dois, desde então, felizes, governaram Atenas, onde Teseu se tornou conhecido de todos pela sua coragem e pelo seu carácter.
Uma vez mais, porém, tudo se precipitou. Na ilha de Creta havia um horrível monstro, o minotauro, cujas formas eram em parte de um homem e em parte de um toiro. O rei Minos, que governava a ilha, gastara muito dinheiro na construção de uma habitação para o horrível monstro, que tinha a obrigação de alimentar. Ora, acontece que, alguns anos antes, os atenienses, entrando em guerra com Creta, foram derrotados, tendo a paz sido concedida com a condição de que Atenas enviasse anualmente sete jovens e sete virgens para serem devorados pelo monstro do cruel rei Minos.
Teseu, ao saber desta terrível história, ofereceu-se, contra a vontade do pai, para ser um dos sete jovens desse ano, os quais eram normalmente sorteados:
– É exactamente por ser um príncipe – disse ele ao pai – e o legítimo herdeiro do teu reino, que livremente tomo sobre mim as calamidades dos teus súbditos.
Deixando o pai muito triste, foi então para Creta, para ser devorado pelo minotauro. A sua atitude e coragem, no entanto, diferenciavam-no dos restantes jovens, o que não passou despercebido a Ariadne, filha do rei de Creta, que era contrária à crueldade do pai.
De noite, enquanto esperavam a aurora em que seriam sacrificados, os pobres atenienses choraram, até que, embalados pelos próprios soluços, adormeceram. Apenas Teseu se mantinha em pé, acordado, pensando numa forma de os salvar. Apareceu então a princesa Ariadne, que abrindo a porta da cela lhe pediu que rapidamente fugisse. Mas ele disse-lhe que não podia abandonar os seus companheiros, convencendo-a a levá-lo até ao refúgio do minotauro.
Percorreram um bosque escuro e cerrado até que chegaram a uma porta, único acesso a um escuro labirinto, no meio do qual estava o terrível monstro. O minotauro era fácil de encontrar, apesar do labirinto, pois os seus roucos rugidos indicavam o caminho a seguir. Mas como é que de lá sairia, se o matasse? Ariadne disse-lhe então que segurasse a ponta de um fio de seda, que lhe entregou; ela seguraria a outra extremidade e assim, se ele sobrevivesse, poderia sair do labirinto.
A luta foi longa e feroz e foi apenas no momento em que o minotauro estava prestes a devorá-lo que, de um só golpe, Teseu o matou. Rapidamente saiu do labirinto e, reunindo os outros, logo fugiram para Atenas. Ariadne decidiu ficar junto a seu pai, que, no fundo, amava, na ilha que um dia governaria.
Na viagem de regresso, no entanto, vinham todos tão felizes e excitados, que Teseu se esqueceu de içar velas brilhantes – e não pretas –, sinal de que vencera o minotauro, tal como o seu pai lhe pedira, o que fez com que o rei Egeu, do alto de uma montanha onde, todos os dias, esperava avistar o barco regressando, vendo que as velas eram pretas e pensando, por isso, que o seu filho tinha morrido, se atirasse com o seu ceptro e a sua coroa para o mar, que desde então tem o seu nome, por nele ter morrido afogado.*
Interpretarei no próximo post alguns aspectos desta lenda. Para já, porém, deixo-o assim solto à livre imaginação de cada um.


* Adaptação feita a partir do texto de Nathaniel HAWTHORNE, Narrativas e Lendas da Antiga Grécia, Ed. Paulistas, Lisboa, 1960, vol. II.

7 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom!

Ctnc disse...

Bom mesmo, parabéns!

Anónimo disse...

vlw isso me ajudou paca

Anónimo disse...

muito bem escrito. Rico emdetalhes. parabéns

Anónimo disse...

bom texto parabens

Anónimo disse...

bom texto parabens

Anónimo disse...

bom texto continue assim