sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Islamismo e Zara Véu


Estou a ler Snow, um dos livros de um dos meus autores preferidos, Orhan Pamuk. Trata-se da história de um poeta com alguma fama e recursos que viaja para Kars, no leste da Turquia, a poucos quilómetros da Geórgia, da Arménia e do Iraque, para escrever umas palavras para o jornal secularista "O Republicano" sobre o suicídio de algumas jovens, aparentemente porque não as deixam usar véu nas escolas (embora a realidade parece ser outra: na verdade elas estão a fugir a casamentos combinados), e sobre a provável vitória de um partido islamista nas eleições locais. O poeta faz também esta viagem para se encontrar com uma mulher por quem pensa que tem uma paixão. O livro mostra como é grave a ascensão do islamismo, no leste da Turquia, e quanto isso colide com aquilo que acontece nas partes mais avançadas a oeste e junto das classes médias de Istambul.

Paralelamente, há umas semanas visitei a segunda maior mesquita do Mundo, em Casablanca, e fiquei fascinado com algumas coisas. A mesquita é um sucesso em vários aspectos. Foi financiada por um imposto especial, ninguém se importou muito com isso e todos estão orgulhosos dela. Está localizada na zona da praia da cidade, numa zona de passeio de famílias, e está sempre cheia de gente, com uma mistura "secular" entre lazer e reza. Essa interessante mistura entre turistas acidentais e pessoas com mais ou menos fé é parecida com o que se pode ver em S. Pedro em Roma. Uma festa, portanto, e longe da escuridão islâmica de Kars relatada por Pamuk. Nos degraus cá fora da mesquita há imagens de miúdas que, se fosse por cá, tinham saído das lojas Zara, só que com véus.

Para conhecer melhor o islamismo precisamos de ler mais e de viajar mais. Mas parece ser verdade que o islamismo não é todo igual. Ou então estou a ver mal a coisa.

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