quarta-feira, 6 de agosto de 2008

III. Os intelectuais

Que intelectual é esse que decaiu? O profeta. Porquê? Porque o profeta se tornou idólatra do giróvago e porque perdeu sentido crítico. O profeta Sócrates mostrava religioso respeito pelo monge Heraclito. Anacronismo à parte, duvido que tomaria Diógenes como paradigma. Quando o profeta bebe do giróvago há sempre sinal que anuncia a sua própria decadência. O palhaço em potência inquina-o e fá-lo cair no mesmo descrédito.

Quando o profeta toma o giróvago por paradigma condena-se ao descrédito. Afirma que no fundo lhe irreleva o povo a quem fala e os temas que enuncia. Decaiu porque desprezou o monge, que é o que lhe elabora as bases do discurso e a seiva do pensamento. Chama de cobarde o apolítico, ou, pior, de fascista. Decaiu porque não apenas atacou os monges concretos, mas quis acabar de vez com o estado monacal. Porque decaiu? Porque a religião única que apregoava era postiça. O modernismo, o marxismo, agora substituído pelo capitalismo ou pelo multiculturalismo ou post-modernismo. Religiões gastas à nascença, pobres de conteúdo e de efeito. Uma árvore conhece-se pelos seus frutos e conheço poucos hinos à economia de mercado, ainda menos sinfonias ao multiculturalismo.

Feito o diagnóstico, qual a terapêutica?

O intelectual soberano é em geral assustador. É preciso que seja soberano antes de intelectual e isso é matéria-prima rara. O conselheiro precisa de soberanos que pré-existam. Esses são mais comuns mas mesmo assim raros. Mas o profeta é ainda necessário, só que tem de ser de religiões ricas e observar o monge, não o giróvago. O giróvago tem de ser consistente com a sua natureza e ser pobre, sob pena de ser palhaço de hipocrisia. E o monge tem de ser respeitado exactamente por ser contemplativo, não pela sua acção social. Uma cultura saudável apresenta estas características. Dediquemo-nos a procurá-las.

http://epistolary.org/1643.html
http://www.fh-augsburg.de/~harsch/Chronologia/Lspost13/CarminaBurana/bur_car0.html
http://www.tylatin.org/extras/cb1.html




Alexandre Brandão da Veiga

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