quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Fazer política

Em 2008 existiram mais ou menos incêndios do que em 2007? A esta pergunta aposto que a maioria de nós, cidadãos incautos, responderia que o número de incêndios diminuiu. Pois bem, segundo os dados da Direcção Geral dos Recursos Florestais, de 1 a 15 de Agosto de 2008, a área ardida em Portugal é cerca de 35% superior à que ardeu em igual período do ano passado (para ser totalmente honesto, terei também de dizer que, ainda assim, o número é muito inferior aos dos anos imediatamente anteriores).
Como explicar esta divergência entre a realidade estatística e a realidade percebida? Tenho uma tese não demonstrada: arrisco-me a apostar que o número de notícias sobre incêndios diminui em 2008.
E com isto, volto à «vaga» de criminalidade que alegadamente «assola» o país. De uma coisa ninguém terá dúvidas: a criminalidade «assola» o «país mediático». Mas nestas coisas convém lembrar que também há um «país real». E se acreditarmos no Secretário Geral do Gabinete Coordenador de Segurança, feitas as contas, a «vaga» corresponde a um aumento de 10% da criminalidade no 1º semestre deste ano.
Preocupante? Sem dúvida. Mas o fenómeno justifica uma intervenção do Presidente da República e uma oposição em bloco a reclamar a cabeça do Ministro da Administração Interna? A resposta dependerá da concepção que cada um de nós tiver do que deve ser «fazer política».

4 comentários:

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Pedro, essa história de pedir uma cabeça começou com Salomé e é quase sempre uma conspiração com maus motivos.

Táxi Pluvioso disse...

Agora falta baixarem as notícias sobre crime para baixar a criminalidade.

Esta onda de criminalidade violenta só existe porque não há nenhum Mundial de Futebol a decorrer, e a malta dos jornais saca outros coelhos da cartola.

Anónimo disse...

É uma grande mas não surpreendente coincidência: estava a vir para aqui a pensar entre outras coisas em escrever o post que Pedro N escreveu. Não sei se o faria pois não sabia ainda como colocar a questão sem pôr em causa a "liberdade" da imprensa. Já não foi preciso: 100%!

Inez Dentinho disse...

Também a gripe das aves teve a sua maré que as redacções e o Povo fizeram esgotar.
Parece que tudo tem a ver com a pacîência, com a saison, com a exaustão. Se todos falam muito sobre o mesmo tema, todos se cansam muito sobre esse tema. O tema desaparece mesmo que a realidade o multiplique. A morte súbita dos assuntos mais consequentes acontece, assim, «derivado aos nervos», como agora se diz.