Briseida, a pelada
A escrava atravessou o acampamento usando o longo pesado véu negro. Seguindo o rei, passou pelos guardas, entrou na tenda. O rei parou, olhou para Briseida e voltou a saír.
Ela deu alguns passos até ao centro da divisão. O grande cão cinzento deitado aos pés da cama do dono levantou a cabeça.
" - Ash, ash" - Disse Briseida que, criada com aqueles cães de pastor, sossegou o animal.
O dono estava encovado na cama. Não se parecia com Aquiles, o guerreiro.
O corpo entrapado cheirava a unguento e miséria. Tinha chagas nas pernas e nos pés, onde as unhas apodreciam.
Tirou-lhe as ligaduras, limpou-o, aplicou-lhe as ervas moídas, fez-lhe novos curativos. Retirou-se, sem que Aquiles abrisse os olhos.
No segundo dia quando Briseida entrou na tenda o cão não levantou o focinho. Aproximou-se da cama. Aquiles virou a cabeça, de olhos abertos:
"- Quem és tu?" - Indagou.
" - Chamo -me Briseida " - Retorquiu ela, enquanto tratava o ferido.
" - Ontem sonhei que duas águias negras me levavam, passando por rios e montanhas, até chão sagrado."
" - Águias ou abutres?" - Perguntou Briseida.
Aquiles não respondeu. Quando falou foi para dizer:
" - Com que defeito te asinalaram os deuses que te trazem coberta?"
" - Pelada, senhor".
Briseida acabou o tratamento e saíu.
( continua)
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