quinta-feira, 31 de julho de 2008

Os pobres, a direita e a esquerda

Os que dizem que não faz sentido distinguir a Direita da Esquerda, às vezes têm razão. Isso mesmo mostram as disputas (que não cito por preguiça, pedindo desculpas por isso), nos jornais e outros meios, por causa das recentes lutas entre ciganos e negros, algures na periferia de Lisboa.

A direita ex-marxista e a direita não católica escreveram coisas impressionantes, que basicamente se traduzem no seguinte: não ajudem os pobres, pois isso torna-os ineficientes e preguiçosos. Os ex-marxistas da direita continuam a achar que o Mundo pode ser corrigido e só o não é porque os homens maus não querem. Não aprenderam a lição com a queda do muro de Berlim. Os não católicos da direita acham que a busca da eficiência é o valor mais importante à face da Terra. Não aprenderam a lição olhando para as suas próprias vidas, para verem como também elas têm muito de ineficiente.

Ajudar os pobres é ineficiente? - Claro que é. Assim como olhar para o tecto à procura de inspiração. Ou discutir no corredor, longamente, a invenção da água quente.

(A verdade é que nada disso é ineficiente, quando tudo é bem medido, uma dedução impossível de expor a quem usa demais a ideologia.)

Mas a questão não é saber se ajudar os pobres é ineficiente ou não. E é aqui que entra a direita católica, para quem ajudar os pobres é tão natural como rezar. Esta direita está mais perto dos socialistas moles, que acham o mesmo. Sim, porque os socialistas duros são como a direita ex-marxista (et pour cause) e a não católica. Para eles, ajudar os pobres é alimentar o "sistema" e atrasar a revolução.

Meus caros, brinquem aos liberais mas parem quando há pessoas que precisam dos seus problemas resolvidos. De uma forma não malthusiana, de preferência.

Perdoe-se a generalização feita nestas linhas, mas retenha-se o que de válido ela dá.

3 comentários:

Eduardo disse...

Os "pobres" sempre os "pobres", pobres materialmente mas ricos em representantes e intérpretes da sua vontade.

Não tenho a mesma facilidade em falar nem dos pobres nem da direita em da esquerda nas suas diversas variantes, mas sou católico e considero-me de direita e liberal e não me passa pela cabeça censurar a ajuda aos pobres, aos verdadeiros e aos falsos.

Ora sendo católico a caridade é para mim, muito naturalmente, uma parte da Caritas Cristã, uma obrigação de cada um, um dever de consciência. Não só não é delegável como, muito menos, pode ser cumprido coercivamente.

Isto para dizer que me parece até um pouco presunçoso que atribua às críticas à panóplia de medidas de natureza social responsáveis por distribuir o dinheiro coercivamente retirado dos bolsos de quem trabalha, a uma qualquer insensibilidade em relaçao à pobreza. Como se atribuisse a si próprio uma sensibilidade e uma preocupação que não reconhece nos criticos, muito ao jeito de uma outra superioridade que os esquerdistas costumam sentir.

Isso não é verdade no meu caso e, admito, no de outros.
Quando penso ou falo desfavoravelmente em relação ao dinheiro entregue aos "pobres" refiro-me, obviamente, ao facto de ser o Estado a fazê-lo e, claro, de o fazer com o dinheiro que subtraiu aos bolsos dos cidadãos.

Anónimo disse...

Ver "Certezas versus Convicções" em http://www.leonardo.com.pt/revista1/index.php?option=com_content&task=view&id=55&Itemid=108

Anónimo disse...

Caro Eduardo,
Obrigado pelo seu comentário. Começa bem: realmente não tenho nada que defender ninguém. Mas acaba menos bem: se há coisa em que o Estado não faz crowding-out é na ajuda aos pobres. Organizem-se e ajudem, descontem no IRS, que o estado até agradece (se nao for um estado estúpido, claro, o que nao é garantido). Boa discussão.