É destes "role models" que eu gosto
A Critical Software celebrou dez anos. Lembro-me como se fosse hoje do final da Escola de Verão de Empreendedores, organizada no âmbito da Academia dos Empreendedores que lancei, na ANJE, nos tempos de Fernandes Thomaz. João Carreira apresentou aí o plano de negócios da empresa que iria criar, com os seus colegas Gonçalo Quadros e Diamantino Costa. Focada no desenvolvimento de software para sistemas críticos, um dos seus primeiros clientes foi a NASA. “Coimbra, a última descoberta da NASA” foi o tema da capa da revista “Ideias & Negócios” desse mês.
Há empresas que mudam uma cidade, resgatando-as de declínios anunciados. Tal como Michaell Dell (Austin), Bill Gates e Jeff Bezos (Seattle), o trio de fundadores da Critical foi decisivo no renascimento de Coimbra.
Dez anos atrás, Coimbra era uma cidade triste e parada no tempo. Rodeada de empresas a fechar, virada para as glórias do passado - “Coimbra Cidade Monumental”, anunciava (e bem) a placa na auto-estrada. Nos últimos anos, deu um salto de gigante. A Critical inspirou outros, os seus fundadores tornaram-se “role models” para muitos recém licenciados da Universidade de Coimbra. Nascem novas empresas como a Bluepharma, a ISA, a Crioestaminal e muitas outras.
O número de incubadas no Instituto Pedro Nunes, liderado por um empreendedora notável (Teresa Mendes), disparou. Um Presidente da Câmara (Carlos Encarnação), que investe em patentes. Um Reitor (Seabra Santos), com visão, corajoso e pragmático, que soube apostar numa equipa jovem e aguerrida. Um Pró-Reitor, Fernando Guerra, com rasgo, energia e capacidade empreendedora únicas, apostado no fomento do empreendedorismo e na criação de redes internacionais. Um centro de transferencia de tecnologia exemplar (liderado por Jorge Figueira). (Há três semanas, promoveram ambos o Medtech Forum, que levou a Coimbra 150 líderes europeuas na área da investigação, investidores e peritos do sector da Saúde e Tecnologias Médicas).
Um cientista empreendedor (Carlos Faro), que, com rasgo e determinação, se alia a um autarca visionário (Jorge Catarino, Cantanhede e seu sucessor, João Moura) para criar o primeiro parque de biotecnologia, Biocant.
Um capitalista de risco (Roberto Branco, Bioventures e Beta Capital) sem medo de apostar em “start ups”, onde acrescenta muito valor para além do capital. Um lider associativo visionário (Almeida Henriques) que, a partir do Conselho Empresarial do Centro (CEC), lança pontes, mobiliza vontades (o “Pacto para a Nova Centralidade”) e cria um capital social raro, muito raro, em Portugal. Um empreendedor académico (Borges Gouveia) que, a partir da Agência de Inovação e da Universidade de Aveiro, reforçou a componente inovação do “Pacto para a nova Centralidade”. (O Pacto – ver doc aqui - assenta em ideias simples e mobilizadoras: Reforçar a capacidade de inovação das empresas. Fomentar uma ligação dinâmica entre o sistema cientifico e tecnológico e as empresas. Criar condições para o desenvolvimento e crescimento das microempresas. Apoiar ao empreendedorismo centrado numa lógica de rede. Explorar formas alternativas de financiamento, como factor diferenciador. Aproveitamento dos recursos naturais, ambientais e energéticos. Tornar a região mais atractiva ao investimento directo internacional.)
A revolução silenciosa que se vive no Centro significa que nada é impossivel quando um punhado de mulheres e homens ambiciosos e sérios conjugam vontades.
Desde há três anos, a pedido da Câmara, a Brisa mudou a placa da A1. Coimbra passou a ser, “Coimbra, Cidade do Cidade do Conhecimento”. Coimbra não é Cambridge, mas está a mudar – e essa mudança é já visível.
Estes exemplos não são casos isolados. Por esse País fora, há mais Portugal empreendedor do que parece. Cavaco Silva não se têm casado de dizer (e reiterou neste fim-de-semana): Portugal precisa de apostar em empresas capazes de exportar bens transaccionáveis. Essa é a única resposta possivel à globalização: mudar de modelo, ou seja: mais inovação nas empresas e mais empresas a inovar. Empresas cuja vantagem comparativa não vem das relações com Estado, mas dos seus produtos e serviços, capazes de vencer no mercado mundial. Só assim se exporta mais e com mais valor. Só assim de cria emprego qualificado e se atrai talento.
Parabéns, Gonçalo Quadros, Diamantino Costa e João Carreira (hoje a viver em New Jersey, na liderança da Critical Links, um spin-off da Critica Software).
O mais bonito destes dez anos é constatar que os fundadores da Critical cresceram, mas não mudaram no que é essencial. Não se deixaram deslumbrar, não tornaram novos ricos, continuam a ser quem eram: gente séria e trabalhadora, apaixonada pelo que faz, sempre com sede de aprender e de empreender. É destes "role models" que eu gosto.
(A bonita foto em cima, do grupo fundador, cedida pelo João Carreira (sentado), faz lembrar a imagem lendária de Bill Gates e Paul Allen com o grupo fundador da Microsoft, em 1975...)
13 comentários:
A intervenção dos autarcas do centro é muito parecida com a do Rui Rio… Claro que há sempre o “La Feira” para entreter graças ao “notável” autarca.
Horário,
Este post centra-se nos fundadores da Critical. Não conheço todos os autarcas do centro. Relativamente a Coimbra, concordará concerteza que não há comparação entre o actual e o anterior Presidente de Câmara - ou entre o actual e o anterior Reitor da UC. Quanto a Cantanhede: aproveite e vá visitar o Biocant, obra sonhada pelo anterior Presidente da Câmara e concluida pelo actual.
Não sei se existe um modelo do centro, se existe mais empreendedores no centro do que em outros locais do pais, mas certamente o que este post do Diogo toca é desvantagem - que se torna mérito - de um conjunto de empresas e projectos de mérito que não vivem no triangulo mediatico (tecnico - taguspark - cascais).
Há industria portuguesa nova e inovadora - é responsabilidade dos comunicadores não usarem sempre os mesmos exemplos errados (via verde, etc) e fazerem um update (ndrive, critical, etc)
Abraço
Excelente texto! Atento, muito atento!
Há muitas mudanças a acontecer. As referidas em relação a Coimbra são também uma realidade clara. E ainda bem, afinal ninguém gostaria de ver a grande Universidade adormecida como estava. Nem nós que somos de Aveiro. Portugal precisa de mais ar para respirar, mais concorrência, em tudo!
Grande abraço,
Ângelo Ferreira
Eu também Diogo. Gente que se chega à frente... e faz. Há uns anos, na primeira reunião do Compromisso Portugal, alguém disse que em Portugal (e no Compromisso) sobravam gestores e não havia suficientes empreendedores. São pessoas como estas que nos apresenta que fazem a diferença. E ainda bem.
Nem todos caro horácio, nem todos.
Parabéns à Critical mas já agora parab´nes igualmente à ISA que também fez anos recentemente (18 anos se não me engano)e acima de tudo parabéns também ao Diogo não apenas pelo blog mas pelo excepcional papel - ele também - de role-model do que Portugal e os portugueses podem ser e construir.
É destes role models que eu também gosto.
Grande Abraço
Jorge Fig
Gostava de ver mais gente como esta nas capas das revistas e dos jornais. O nosso capitalismo nacional é feito e gestores muito competentes na relação com o Poder. Salazar já lá vai, mas a mentalidade ficou. Presto a minha homenagem a empreendedores como estes, virados para o mundo.
Caro Diogo,
Resulta com particular evidência do post o papel desempenhado pelos autarcas. Assim sendo repito: Na zona centro há autarcas com visão, no Porto há um autarca com o “la Feira” e para ser inteiramente justo com corridas de carrinhos e de aviões, porque isto de andar no ar tem sempre outra “elevação”.
Post extraordinário. Pegar num exemplo, dar-lhe nexo individual e conjuntural, saber ler o seu movimento e, cereja no bolo!, fazer transvasar esse movimento para o colectivo, sem faltar à lucidez - é obra! Obrigada Diogo.
É destes posts que eu gosto.
Diogo,
Como originário da região e tendo a felicidade de ser amigo de alguns dos empreendedores que mencionas, tenho o maior gosto em assinar por baixo este post.
Abraço
A Critical diluiu-se e hoje em dia não é nada para além de uma empresa de aluguer de mão de obra (consultora) que vive (muito) à custa de um nome e de um pontual contrato com a NASA.
Deve dar dinheiro isso deve.... mudar Coimbra é que nem por isso.
Vejo o exemplo desta empresa e sou optimista com as perspectivas da minha, embora da área médico-cirúrgia, unica no distrito de Viseu e vítima de toda a conjuntura sócio-económica e ostracismo a que são votadas as micro-empresas q não em Lisboa e Porto. É com entusiasmo que me vejo sobreviver sem sosobrar neste pântano que é o nosso país, pequeno não só geográficamente mas de mentalidades. Os meus poucos clientes devem-me facturação há 4 meses, aos concursos públicos a que concorri e coloquei prazos de validade de propostas a 90 dias espero notícias lá para o fim do ano, pagamento a perder de vista! Mas estou contente, aos fornecedores alemães tenho de pagar a 30 dias senão aufwiedersehen - é bom ser-se internacional!
Luto com as multinacionais de material médico como David contra Mil Golias, mas sei que tenho o Senhor do meu lado, algures no futuro esses gigantes irão tombar se não pela força da minha funda pela consciência do Estado de que os concursos estão viciados, que compram material hiper-inflacionado para favorecer alguns, que ganham a triplicar não lhes bastando serem funcionários mas também auferidores do marketing dos produtos que escolhem. Por tudo isto estou contente, não naufraguei ainda, não contraí empréstimos nem subsídios, vogo neste pântano pleno de crocodilos agarrado apenas a um pedaço de madeira - mas flutuo e estou vivo!
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