segunda-feira, 7 de julho de 2008

I. “Carpe diem” e power point

É uma mesma época que cultiva o “powerpoint” e proclama, em versão vulgata de filme americano, o “carpe diem”. Duas realidades simultâneas podem não ter uma causa comum, mas têm sempre forçosamente um fundo comum. É esse que eu gostaria de fazer compreender.

O “slide”, o meio audiovisual, pode ser muito útil numa exposição. Dar História de Arte sem imagens poderá ser algo complicado. Em certas circunstâncias a apresentação de esquemas é igualmente importante. Mas uma moda pedagógica que tem múltipla origem e antiguidade levou a sobrevalorizar o boneco como forma pedagógica.

Hoje em dia vemos com frequência apresentações em “powerpoint” em que o orador nada diz, não nos dá nem mais uma ideia, que não esteja contida no diapositivo. A coisa torna-se duplamente enfadonha. Já sabemos a informação em imagem, sem ênfase, sem contacto humano, e eis senão quando nos aparece o contacto humano, geralmente monocórdico, a dar a informação que já tínhamos absorvido.

No limite, o diapositivo é uma muleta. Em vez de ser um auxílio, é o apoio fundamental. O orador não confia em si como fonte de autoridade, mas está no fundo a dizer-nos que o que afirma é credível porque o boneco já o disse antes dele. O orador deixa de incarnar o discurso. Avisa que o discurso está fora dele e por isso mesmo – por vezes, mesmo só por causa disso mesmo – é credível. O boneco falou por ele. Quanto à autoridade, abdicando dela ou temendo não a ter, diz que o desenho e a bolinha estão lá para mostrar a consistência do que diz.

1 comentários:

Sofia Rocha disse...

O diapositivo, a par da citação de frases e ideias alheias,são o par de muletas mais comum por estes dias. Há dias em que rezo para que caiam, deixando o seu portador coxo e bambo à frente de toda a gente!