quarta-feira, 18 de junho de 2008

III. Noctes Atticae, Aulo-Gélio, Vol I (livros I-IV), Les Belles Lettres, Paris, 2002

Aceitemo-lo. Uma mistela. Mas quando vemos uma revista actualmente o que vemos? Sob por vezes uma epígrafe enganadoramente unificadora igualmente uma mistela. A revista promete ser de assuntos económicos e aparece o horóscopo, de questões femininas (?), tem artigos sobre política internacional.

Admitamo-lo. Mas é bem mais divertido que a maioria dos jornais. Não tanto pela patine, cujo sabor não pode ser negado, mas mais pela erudição e pelo ridículo a que esta se expõe. Ao mesmo tempo, conclusões que não são destituídas de sentido, e preocupações científicas que não são tontas. Literatura, retórica, linguística, História, Direito, geologia, física, filosofia… Tudo se encontra misturado na obra deste simpático autor.

Sem dúvida. As “grandes” personagens citadas do mundo intelectual, os que mais o marcaram, parecem-nos bem pequenos. Mas o que vemos hoje em dia nos jornais senão na sua imensa maioria medíocres sem futuro, ou na melhor das hipóteses meros competentes? Que filósofos estão hoje vivos com maior estatura que Taurus?

E sobretudo… Sobretudo a arte do epigrama, esse monumento à capacidade de síntese no qual os romanos eram mestres e que mostra a sua imensa inteligência, ao contrário do dito popular. Uma pessoa, uma situação é descrita numa curta frase. A incapacidade de pensar o além (tão típica da nossa época) é ao menos compensada pela capacidade de o comunicar como no epigrama de Pacúvio. Poucas frases me parecem mais fúnebres, poucas mostram tal capacidade de comunicar aos vivos que o julgam ser eternamente que existe um imenso magnete que os vais chamar também, sem o mau gosto da maldição ou da exortação, apenas um lembrete, uma coisa quase irrelevante. Ou o epigrama de Favorino, que mostra a deliciosa arte do desprezo clássico de que somos herdeiros tão imerecedores.

Que fique de lição para quem deseja renome, quando não acredita na imortalidade. A sua luz não irá além das áticas noites.

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