quarta-feira, 18 de junho de 2008

Hate is Good

Em resposta ao Manuel Fonseca (a quem sindicalmente lembro que estou em frente ao computador com um olho inflamado depois de oito horas engalfinhado no ecrã de uma empresa que tanto faz reluzir o nosso peito), aqui vão os meus seis ódios de estimação - acabei de os seleccionar entre os cerca de setecentos que guardo num livro negro atado ao interior de uma réplica da Iron Maiden em aço inox. Então:

- Odeio pessoas sem preconceitos. A ausência de preconceitos é um certeiro indicador de assomos perfeccionistas mais ou menos dissimulados que danificaram seriamente o Homem e a civilização (Oriente e Ocidente, Antiguidade e mundo contemporâneo por igual). Os preconceitos, desde que revestidos de um sentido básico de compaixão, dois dedos de auto-ironia e uma consciência plena de que a estupidez pode temporariamente atacar os mais inspirados, são a marca de água do nosso sincretismo, da nossa incompletude. Da nossa vontade de mudar.

- Odeio pessoas que falam de tudo - mas mesmo TUDO - com uma natural e indisputável autoridade, como se da vida (e da leitura de blogues, jornais ou, simplesmente, do seu infalível improviso) retirassem perpétuos ensinamentos que a consciência divina obriga a que sejam reproduzidos ao mundo com urgência sonora. Desconfiem sempre dos que sabem um pouco de tudo, e que tudo sabem sobre o pouco cujos limites fingem desconhecer: andam por aí, e alguns são adulados no oráculo popular e na mesa de canasta mais perto de si.

- odeio o F.C. Porto (os ódios futebolísticos, juntamente com a adrenalina, o medo e o sexo, são as manifestações mais saudáveis do Australopitecus que há dentro de nós). A arrogância portista - não confundir com o pelonaventismo portuense, ao qual me orgulho pertencer -, a ilusão da infabilidade, o patético discurso regionalista de PC e os mais cilíndricos dirigentes (Adelino Caldeira, et pour cause) a Oeste de Palermo são razões mais do que convincentes para este ódio, do qual aspiro a fazer doutrina.

- Odeio o Rato Mickey (mas acho piada à Anabela, a namorada do Pateta), o discurso semiótico sobre momentos e objectos que devem ser apreciados com o coração, concertos em estádios, talheres que caem ao chão e são candidamente repostos pelos empregados, mulheres giras que acham que são incrivelmente bonitas, desportos radicais (com a excepção do zapping e dos matraquilhos), malta que usa a inteligência na lapela para que todos sejam obrigados a apreciá-la, a falta de cortesia e civilidade, os inimigos da misoginia (atacam-me depois), os supremos artistas que não sabem escrever uma linha, enquadrar um plano ou compôr uma nota, a falta de honestidade, sempre e para sempre (esta é de candidata a miss Venezuela, mas é mesmo assim), o hedonismo sem conclusões e a lógica sem prazeres, os que não aferem da vida qualquer tipo de dimensão espiritual, os oponentes da pornografia (essa espécie de Cartilha Maternal para maiores e vacinados), os adversários da beleza cósmica da meritocracia, pimentos, cebola, tortillas, carapaus de escabeche, gelados light, charutos, arroz de grelos, sumo de tomate, pessoas que falam alto ao telemóvel no cinema, na praia e nas salas de espera dos consultórios, o ritmo implacável da maledicência e, acima de tudo, mesmo acima de tudo, esta sentença: "não vais conseguir fazer isso".

Afinal foram mais de seis. (Ainda tenho umas centenas para a troca).

5 comentários:

Anónimo disse...

Clarabela. A namorada do Pateta é a Clarabela. O Horácio também gostava dela.
http://www.gpdesenhos.com.br/paginas/disney/clarabela%20.htm

Táxi Pluvioso disse...

Pois. A Anabela seria a namorada do La Féria. Nos comic books, claro.

Unknown disse...

Pedro: o erro da Clarabela é imperdoável. Mas dou mais uma hipótese (é a minha pergunta fetiche para reconhecer verdadeiros "connaiseurs" do Patinhas): como se chama o corvo da Maga Patalógica?

Jorge Buescu disse...

Haha! Boa, Pedro. Concordo que é imperdoável. Acrescento `a tua query: e como se chama aquele ser parecido com o Gollum (mas mais simpático), que teve a sua presença episódica nso anos 70? Mais difícil: como se chama a sua mascote?

Só validamos o post do Pedro com respostas correctas a estas perguntas. You deserve it.

Manuel S. Fonseca disse...

Pois eu desconfio que o Pateta não tinha namorada. E relevando a categoria dos ódios, pergunto se, ao contrários dos gostos, não se poderão discutir os ódios?