Estou farta!
A resignação é um dos nossos males. Dos mais ancestrais, dos mais endémicos. Ciente disso, faço a minha revolução cultural. E insurjo-me. Com todas as forças, gritando alto. Já não aguento mais!
Estou farta – fartíssima – de ser chateada por uns meninos ou umas meninas que me querem impingir tudo e mais alguma coisa, sem eu pedir, sem eu querer comprar, sem eu saber quem são, de onde vêm e quem os manda. Não quero aturar mais esta gente!
Ligam sempre de números não identificados, para casa ou para o telemóvel, às horas mais inconvenientes, tratam-me por “sra. Sofia” (e não se riam, queridos amigos de Geração, porque já os oiço “sr. Alexandre”, “sr. Gonçalo”, “sra. Helena”, “sra. Inez”, “sr. João Luís”…), chamam-se, invariavelmente, Bruno, Nelson, Soraia ou Elisabete, e logo atacam, sem cerimónias, a vender MEO’s, Barclays Cards, ZON BOXes, ou o raio que os parta! Vendem a eito, sem saberem se somos clientes ou não, desdobrando a banha da cobra aprendida em módulos de formação intensiva que não devem ter ultrapassado as duas horas e meia. Pior, incapazes de sofisticação que vá para além do barro à parede, ligam-nos na semana seguinte a termos recusado a extraordinária promoção que, sem pudor, reiteram…
A mim, enervam-me, maçam-me, irritam-me. E isso é mal bastante. Mas, a outros, mais crédulos, mais vulneráveis, mais disponíveis para os ouvir, podem fazer danos bem maiores. Trata-se de gente treinada para vender areia no deserto e, nesse sentido, implacável. Começam de mansinho e, num ápice, já empenharam o interlocutor por umas vidas. Vendem ligações à internet a velhinhos que nunca viram um computador, vendem crédito fácil a quem enredam num engodo mal explicado, vendem pacotes de tudo e mais alguma coisa a quem não precisa de metade da parafrenália.
Ora, fica dito que acho gravíssimo. Pelo assédio, pela manipulação, pelo abuso. Mas, juro-vos, não ficarei por aqui.
Parece que temos um Secretário de Estado da Defesa do Consumidor. Mais rigorosamente, Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor. Pois, vou escrever-lhe.
Primeiro, pedindo-lhe um esclarecimento: procurei e não encontrei, pelo que quero saber se há uma lista de números de telefone não integráveis em campanhas de 'telemarketing'. Depois, e em função da resposta, dir-lhe-ei mais.
Se o senhor secretário de estado me fizer saber que existe uma listinha, farei duas coisas. Desde logo, e sem demoras, tratarei de acrescentar os meus números à dita listinha. Mas, a seguir, lembrarei que, embora o meu problema se resolva assim, talvez a solução não assegure protecção suficiente aos velhinhos ludibriados com a cantiga dos 'bytes' e das bandas largas... E, nessa medida, sugerirei algo mais ou, em rigor, algo melhor. Efectivamente, melhor seria que existisse uma lista daqueles que consentem ser integrados em campanhas de 'telemarketing' e, no reverso, que se presumisse o não consentimento de todos os demais.
Mas se o senhor secretário de estado me vier confessar que não existe qualquer listinha e que, portanto, estamos mesmo todos à mercê das brigadas de Nelsons e Soraias que nos entram casa ou telemóvel adentro, passarei à fase reivindicativa. Nessa altura, pedirei ao Governo que legisle, com carácter de urgência, no sentido de garantir, aos cidadãos que não querem ser incomodados com estas técnicas agressivas e modernas de vender-o-máximo-que-puder-ao-maior-número-de-incautos-que-encontrar, o direito ao sossego e, mais importante, à auto-determinação. Pedirei, pois, uma solução assente no princípio de que o contacto em campanhas de 'telemarketing' deve depender de consentimento, prévio e expresso, do destinatário. Mais, instarei a que tal não venha a consubstanciar uma iniciativa piedosa ou para fazer de conta: é preciso que haja consequências em caso de incumprimento. Isto é, eu devo poder responsabilizar alguém se, depois de ser claro que não quero ser alvo das ditas campanhas, vier a ser incomodada a pretexto de mais um crédito, ou mais um pacote de chamadas…
Numa sociedade livre, capaz de respeitar a liberdade dos seus cidadãos, eu compro o que quiser, se quiser, quando quiser, como quiser. Não o que me impingem, quando me impingem e como me impingem. E essa pequena diferença faz toda a diferença.
Estou farta – fartíssima – de ser chateada por uns meninos ou umas meninas que me querem impingir tudo e mais alguma coisa, sem eu pedir, sem eu querer comprar, sem eu saber quem são, de onde vêm e quem os manda. Não quero aturar mais esta gente!
Ligam sempre de números não identificados, para casa ou para o telemóvel, às horas mais inconvenientes, tratam-me por “sra. Sofia” (e não se riam, queridos amigos de Geração, porque já os oiço “sr. Alexandre”, “sr. Gonçalo”, “sra. Helena”, “sra. Inez”, “sr. João Luís”…), chamam-se, invariavelmente, Bruno, Nelson, Soraia ou Elisabete, e logo atacam, sem cerimónias, a vender MEO’s, Barclays Cards, ZON BOXes, ou o raio que os parta! Vendem a eito, sem saberem se somos clientes ou não, desdobrando a banha da cobra aprendida em módulos de formação intensiva que não devem ter ultrapassado as duas horas e meia. Pior, incapazes de sofisticação que vá para além do barro à parede, ligam-nos na semana seguinte a termos recusado a extraordinária promoção que, sem pudor, reiteram…
A mim, enervam-me, maçam-me, irritam-me. E isso é mal bastante. Mas, a outros, mais crédulos, mais vulneráveis, mais disponíveis para os ouvir, podem fazer danos bem maiores. Trata-se de gente treinada para vender areia no deserto e, nesse sentido, implacável. Começam de mansinho e, num ápice, já empenharam o interlocutor por umas vidas. Vendem ligações à internet a velhinhos que nunca viram um computador, vendem crédito fácil a quem enredam num engodo mal explicado, vendem pacotes de tudo e mais alguma coisa a quem não precisa de metade da parafrenália.
Ora, fica dito que acho gravíssimo. Pelo assédio, pela manipulação, pelo abuso. Mas, juro-vos, não ficarei por aqui.
Parece que temos um Secretário de Estado da Defesa do Consumidor. Mais rigorosamente, Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor. Pois, vou escrever-lhe.
Primeiro, pedindo-lhe um esclarecimento: procurei e não encontrei, pelo que quero saber se há uma lista de números de telefone não integráveis em campanhas de 'telemarketing'. Depois, e em função da resposta, dir-lhe-ei mais.
Se o senhor secretário de estado me fizer saber que existe uma listinha, farei duas coisas. Desde logo, e sem demoras, tratarei de acrescentar os meus números à dita listinha. Mas, a seguir, lembrarei que, embora o meu problema se resolva assim, talvez a solução não assegure protecção suficiente aos velhinhos ludibriados com a cantiga dos 'bytes' e das bandas largas... E, nessa medida, sugerirei algo mais ou, em rigor, algo melhor. Efectivamente, melhor seria que existisse uma lista daqueles que consentem ser integrados em campanhas de 'telemarketing' e, no reverso, que se presumisse o não consentimento de todos os demais.
Mas se o senhor secretário de estado me vier confessar que não existe qualquer listinha e que, portanto, estamos mesmo todos à mercê das brigadas de Nelsons e Soraias que nos entram casa ou telemóvel adentro, passarei à fase reivindicativa. Nessa altura, pedirei ao Governo que legisle, com carácter de urgência, no sentido de garantir, aos cidadãos que não querem ser incomodados com estas técnicas agressivas e modernas de vender-o-máximo-que-puder-ao-maior-número-de-incautos-que-encontrar, o direito ao sossego e, mais importante, à auto-determinação. Pedirei, pois, uma solução assente no princípio de que o contacto em campanhas de 'telemarketing' deve depender de consentimento, prévio e expresso, do destinatário. Mais, instarei a que tal não venha a consubstanciar uma iniciativa piedosa ou para fazer de conta: é preciso que haja consequências em caso de incumprimento. Isto é, eu devo poder responsabilizar alguém se, depois de ser claro que não quero ser alvo das ditas campanhas, vier a ser incomodada a pretexto de mais um crédito, ou mais um pacote de chamadas…
Numa sociedade livre, capaz de respeitar a liberdade dos seus cidadãos, eu compro o que quiser, se quiser, quando quiser, como quiser. Não o que me impingem, quando me impingem e como me impingem. E essa pequena diferença faz toda a diferença.
10 comentários:
Por causa dessa pandemia, ensinei o meu filho a ir espreitar o telefone fixo quando toca desalmadamente à hora do jantar e ele, que ainda não lê, mas já conhece certas palavras, já decorou o "anónimo". Sabe que são uns senhores "chatos" e que por isso não é para atender essas chamadas. Há uns meses, e durante um mês, o telefone tocava religiosamente entre as 20.00 e as 21.00. O rapaz ía ao telefone e dizia "-É o chato, mãe...".
No final desse mês, e porque embora me assegurassem de casa que o meu pai em viagem pela Argentina e pela Patagónia estava bem, nunca conseguimos comunicar, fiz queixas à família. Que não senhor, que o móvel não fazia nem recebia chamadas, mas que o pai telefonava todos os dias à hora do jantar, sob uma chamada não identificada. Nesse dia senti uma tristeza profunda, ao imaginar o meu pai a querer falar comigo do outro lado do mundo e eu sem o ouvir. É claro que o meu pai ficou convencido que tem uma filha perdulária que não dá banho ao neto e que vai jantar fora todos os dias...
Para evitar mais mal entendiddos, hoje faço assim: levanto o auscultador e ao primeiro Sra., ou Dona, já sei que não interessa, avanço: "- Não quero!" e desligo. Tem dado resultado, já ninguém liga.
Nem o meu pai.
Cara Sofia (G e R) eu sou dos crédulos e fácil de levar. Aceitei mudar de telefone (não direi de quê para quê, para não influenciar nenhum pobre de Cristo). Valeu a pena. Já vou no 5º telefonema para confirmar a confirmação da confirmação dos dados fornecidos para efectuar a mudança, BI e NIF incluídos. A experiência está a marcar-me: começo a sentir um problema de identidade. Temo chegar ao fim do processo com o mesmo telefone ou sem nenhum. Tenho é a certeza de que já não serei o mesmo.
Adoraria ter escrito este texto! É que tenho um pó ao telemarketing! Não atendo: eles que falem com o gravador de chamadas se quiserem...
Sofia:
Ao contrário do que propões e, por prudência, sugiro e recomendo a resignação e o silêncio. Tempos houve em que o não fiz, acreditando na bondade natural das pessoas e na possibilidade efectiva de uma elevação moral da espécie. Mas desisti.
Ainda hoje me lembro da última vez em que o tentei. Um telefonema de uma senhora da contabilidade sobre um qualquer problema administrativo. Ao segundo "Senhor Gonçalo" expliquei-lhe que ao "Senhor" se segue o nome de família, antecedido, ou não, pelo nome próprio. Ora, se à primeira não percebeu, à segunda, ofendida, perguntou-me: "Ó colega, mas acha que eu não estou a tratá-lo com respeito!? Eu não percebo o que é o colega quer..." etc., etc.
Entrei em pânico, mas daí para a frente foi tudo foi em vão. E ainda que eu tivesse implorado - como implorei - para esquecermos o "ó colega" e voltarmos ao "senhor Gonçalo", o mal estava feito e já nada consegui.
A minha mensagem, portanto, é esta: resigna-te; e mais: agradece... porque pode sempre ser pior!
Telemarketing é o único emprego que os jovens têm à sua disposição. Terão de esperar que, a hipótese de 100 campos de golfe em 2010, se concretize, para terem mais opções de começar a sua vida laboral.
Como sou simplesmente mal-educado, não tenho problemas com vendas agressivas, nem por telefone, nem presencialmente.
Foi este ano publicada uma lei ( creio que em fevereiro oumarço), que regula a publicidade agressiva e não querida/consentida, permitindo, inclusivamente, indemização pelo lesado ( que não a quer).
seria bom que as empresas começassem a ser invadidas por pedidos de indemnização...mas para sso era preciso conhecermos as empresas do lado de lá...se é que as há...
Bravo!
Eu já tinha há anos deixado de atender telefone entre as 20 e as 21h. Em Outubro passado mudei de casa. Solução final: acabou-se o telefone fixo. E NUNCA, mas NUNCA forneço o móvel a serviços.
É radical. Mas funciona.
Quando me telefonam - agora, pouco - a perguntar pelo Sr. Ro-dri-go Ad-ão Fon-se-ca, soletrando o meu nome todo, eu respondo sempre que ele não está, que se encontra preso em Custóias, e que podem voltar a ligar daqui por quinze anos.
Tal como aqui foi dito, muito gostava de ter escrito esse texto! Não só por mostrar veementemente a irritação sentida por esse tipo de telefonemas, mas, acima de tudo, por demonstrar algo pouco comum em Portugal: o inconformismo. Se se verifica alguma situação lamentável procura-se agir perante quem de direito, apresentando sugestões e não ficando a barafustar por todo o lado mas nada fazendo!
Olá Sofia
Cheguei aqui pelo "Porta do Vento" que referenciou este post no "cata-ventos". Concordo absolutamente contigo e, só não estou ainda mais farta porque ou reparo que a chamada é anónima e simplesmente não atendo ou, se do outro lado me dizem que querem falar com a Sra. Maria, eu repsondo, mal-educadamente, "pois queria, mas não vai falar, boa noite" e desligo. Não há pachorra, realmente...
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