Escutar às portas
Às vezes temos tanta pena que certas conversas não sejam nossas. Como esta entre a Madalena Lello e o João Luis Ferreira, que escutei de ouvido encostado à porta.
Como não me atrevo a entrar nos grandes temas, vou parasitar vergonhosamente dois “sub-plots” referidos pelo João Luís.
Diz o João que “As obras incompreendidas hoje, serão descobertas amanhã”. Com boa vontade, João, talvez aconteça num ou dois casos. Temo que, maioritariamente, as obras incompreendidas hoje continuem a ser incompreendidas amanhã. Milhares, mesmo milhões de obras, incompreendidas hoje, serão irremediavelmente esquecidas amanhã e ainda mais depois de amanhã. Por mais eufórico que tente ser, acabo sempre submerso por este cepticismo cartesiano.
O JLF também afirma que “A seu modo, a fotografia reflecte uma interpretação da realidade”, só que eu ainda não me consegui libertar da ideia de autonomia da “obra artística”. Como é que eu vejo a fotografia, o cinema, a literatura? Sempre como alguma coisa que se acrescenta à realidade.
Como não me atrevo a entrar nos grandes temas, vou parasitar vergonhosamente dois “sub-plots” referidos pelo João Luís.
Diz o João que “As obras incompreendidas hoje, serão descobertas amanhã”. Com boa vontade, João, talvez aconteça num ou dois casos. Temo que, maioritariamente, as obras incompreendidas hoje continuem a ser incompreendidas amanhã. Milhares, mesmo milhões de obras, incompreendidas hoje, serão irremediavelmente esquecidas amanhã e ainda mais depois de amanhã. Por mais eufórico que tente ser, acabo sempre submerso por este cepticismo cartesiano.
O JLF também afirma que “A seu modo, a fotografia reflecte uma interpretação da realidade”, só que eu ainda não me consegui libertar da ideia de autonomia da “obra artística”. Como é que eu vejo a fotografia, o cinema, a literatura? Sempre como alguma coisa que se acrescenta à realidade.
Os livros, os edifícios, as fotografias, os filmes, não interpretam, somam-se: onde havia um, passa a a haver dois. Uma fotografia (como a de Volkmar Wentzel, acima, roubada aos "Sais") do Parque Eduardo VII não altera a radical solidão, ou a preciosa funcionalidade do Parque. Feita a fotografia, o Parque continua remetido à sua irredutível opacidade, tal como a fotografia se passa a oferecer, sedutora, como uma realidade que dispensa, ingrata, o Parque original.
1 comentários:
Manuel,
Nem me parece que não entra nos grandes temas nem me parece que parasite vergonhosamente de ouvido encostado à porta. Ao contrário de mim, infelizmente para mim, e para bem do diálogo, o Manuel é rápido e inteligente a reagir.
Na primeira citação, talvez eu devesse ter acrescentado que as obras que podem não ser compreendidas num certo momento mas seriam descobertas mais tarde são as obras que realmente o são. As obras maiores que antecipando o tempo têm de esperar pelo mundo. As que não são obras maiores ou sequer obras nunca terão o momento da descoberta talvez por não haver nada para descobrir.
Em relação à segunda citação o que eu digo é que a fotografia dá um aspecto da realidade que resulta na criação de uma nova realidade e, por isso, concordo consigo que se autonomiza do ponto de partida. Mas creio que eu disse isso no texto.
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