quarta-feira, 21 de maio de 2008

Verdade ou Consequência

Como bem refere Paulo C. Rangel, a entrevista de Manuela Ferreira Leite à SIC Notícias mostrou elementos inovadores relativamente ao canónico discurso político português, o maior dos quais terá sido a referência à "verdade" da mensagem. Eu, que fujo das entrevistas políticas como um benfiquista do Alvaláxia, suspendi a ida à cozinha para tomar o comprimido de lítio (brincadeira) e dei à senhora 2 minutos e 20 segundos de benefício da dúvida.
Por 2 minutos e 20, acreditei religiosamente em MFL - a fé, apesar de perigosa, também pode ser o início da compaixão -, como se estivesse num "remake" mental de "O Candidato" de Michael Ritchie, ou de "Network" e "As Chaves do Poder" de Sidney Lumet (nos três casos, infelizmente, quem fala a verdade lixa-se). Mas MFL sabe melhor do que eu que a verdade - como a realidade, de resto - não é um valor absoluto. Como diria o emérito alquimista Pôncio Monteiro, ela "depende do ponto de vista".
Apesar disso, as convicções de MFL quanto ao assunto parecem-me genuínas, e a rigorosa figura ser capaz de projectar nos possíveis eleitores essa convicção de genuinidade já não é coisa pouca. Pese os erros do passado, não é preciso ser um engenheiro nuclear para perceber que há mais esperança num bocejo de Manuela Ferreira Leite do que em todo o lóbulo frontal de Santana Lopes. Ou na enternecedora estratégia a longo prazo de Pedro Passos Coelho.

1 comentários:

Sofia Rocha disse...

Vi entrevistas de MFL e PPC e, a páginas tantas,como diria o Zé da Olivía da aldeia da minha meninice, veio à baila, o tema dos pobres.
Na Sic Notícias, PPC, falando dos novos tempos e das dificuldades da classe média, fez uma pausa sentida, de belo efeito, um ar grave e anunciou, que até ele tinha parentes a passar por dificuldades.
Vi depois MFL a falar dos novos pobres e da quase ausência de classe média. Falou assim no geral, com ar pensado e sério, mas nada disse sobre ter gente remediada na família.
Deve ser porque MFL é do tempo do Zé da Olivía, de um tempo em que não se falava de dinheiro, e muito menos sobre a falta dele.
Não porque não fosse verdade, mas por consequência do pudor. Coisa hoje desaparecida.