quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Mia Patria, sì bella e perduta

É tão ingénua a ideia de um pensamento que voa com asas douradas! E quem me dera dizer, em tom terno e fadista, "o mia Patria, sì bella e perduta!"



Este é o famoso coro "Va Pensiero sull` Ali Dorate" da ópera "Nabucco", de Giuseppe Verdi. Metropolitan Opera House, com direcção de James Levine, 2001.
Aqui vão as palavras para que cante a plenos pulmões:

Va', pensiero, sull'ali dorate.
Va', ti posa sui clivi, sui coll,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del suolo natal!
Del Giordano le rive saluta,
di Sionne le torri atterrate.
O mia Patria, sì bella e perduta!
O membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
perché muta dal salice pendi?
Le memorie del petto riaccendi,
ci favella del tempo che fu!
O simile di Solima ai fati,
traggi un suono di crudo lamento;
o t'ispiri il Signore un concento
che ne infonda al patire virtù
che ne infonda al patire virtù
al patire virtù!

4 comentários:

Paulo C. Rangel disse...

Caro Manuel:

agradeço mais esta pérola.

um ab, p rangel

Manuel S. Fonseca disse...

Paulo,
Não sei se é uma pérola, ou só uma pedra dura. Deixei-a aqui porque sendo o coro dos escravos hebreus imaginado por Verdi, me pareceu uma forma fácil e descomprometida, para um ex-católico como eu, de homenagear os 60 anos de Israel. Mas também me pareceu uma forma mais ou menos angustiada de evocar a "pátria bela e perdida" em que nasci e cresci - com a qual nunca em idade adulta estive de acordo - mas cuja dimensão imperial não me larga a labita, da mesma forma que, dê lá por onde der, à hora da morte, como dizia Somerset Maugham, regressamos à religião em que bebemos o leite materno.

Matilde disse...

"Asa no espaço, vai pensamento!
Na noite azul, minha alma, flutua!
Quero voar no braços do vento,
quero vogar nos barcos da Lua!

Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta.
Por oceanos de novoeiro,
corre o impossível, de ponta a ponta.

Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, príncipio e fim.

Castelos fluidos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
asa, mais alto, mais alto, mais!"

O subtil encanto de Fernanda de Castro, pela ternura do pensamento alado...

Quanto a Verdi, escutei-o incessantemente durante a tarde (algo chuvosa) de sexta-feira passada. E nem pela semântica mais oculta conseguirei percebê-lo como "uma pedra dura"...

Portugal tem, hoje e sempre, o grande espírito Pessoano e o seu brado: "Valete, Fratres"!

Sem eles, pó.

ps - Amanhã, conto regressar "alimentada" pelo que espero ser a magnanimidade da Orquestra Sinfónica de Londres, com Sir Colin Davis, no Coliseu.

Até amanhã!

Unknown disse...

Faço parte do Coro do Círculo Portuense de Ópera. Sou tenor. E posso garantir que esta ária é uma das que, verdadeiramente, me dão imenso gozo cantar.