segunda-feira, 5 de maio de 2008

I. O relógio suíço

É conhecida a frase de Orson Wells que n’”O Terceiro Homem” diz que a democracia nunca produziu o génio. Para isso basta ver o que produziu a Suíça: o relógio de cuco. Que uma personagem de filme o tenha dito é uma questão. Que o lugar comum tenha feito sucesso, mesmo entre os que não conhecem nem a sua fonte nem a sua formação, é facto significativo. É curioso como uma época que se diz democrática como esta está plenamente disposta a desprezar um país exactamente porque é longamente democrático.

É evidente que a democracia tem uma relação turbulenta com o génio e só quando incluiu elementos autocráticos e monárquicos no seu seio (como de formas diversas a Inglaterra e a França conseguiram fazer) os preservam. Essa é uma outra questão que exige tratamento separado.

Mas que se associe mediocridade, democracia e Suíça, já se está a dar passos longos demais. A Suíça começa por ser uma oligarquia de fronteiras variáveis, nuns sítios de pendor teocrático (como Genebra), noutros plutocrático (como Basileia e Zurique), noutras mais democrático ou ainda com restos aristocráticos.

Mas sobretudo não se pode dizer que a Suíça seja um país de medíocre cultura. Acho relativamente irónico que sejam pessoas pouco cultas as mais apressadas em desprezar povos europeus e a afirmar a menoridade da cultura destes. A maledicência não sustentada é sempre reflexiva e bate por ricochete no seu autor.

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