segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fiel depositária

Na minha vida já fui depositária, fiel, de muitas coisas: de livros, imagens, coisas. Por inerência de funções, também já me calhou em sorte ser depositária do fiel amigo. Bacalhau. Muito bacalhau. Estávamos em Dezembro de 2006, mês crucial para a distribuição alimentar. Mês em que, atrás da compra do bacalhau, os portugueses fazem as compras todas nos super, nos hiper. Se quisermos o bacalhau é por isso uma espécie de âncora.
Era o final de um dia de trabalho quando chega uma brigada da ASAE, vinham de Lisboa. Duas inspectoras. O produto que iria fornecer centenas de lojas foi apreendido. Em sequência procuraram por mim para que o Auto fosse lavrado. Sentadas as três no meu gabinete: a mais nova começando, tal e tal, Lei tal. Alto, digo eu essa é a lei de 1984 referente aos crimes económicos. Estamos a ser acusados de um crime? Que sim senhor. Qual crime? Económico. Discussão jurídica com um senão, só eu era jurista. Então pergunto eu, face à previsão legal onde estava o crime. A Inspectora mais antiga apercebendo-se do logro calada. A discussão no auge, a Inspectora mais nova em papos de aranha confessa: eu de leis não percebo nada. Só que tivemos uma reunião em Lisboa e ficou decidido que era assim. Quer dizer, digo eu, sem ninguém ter visto o bacalhau, ficou decidido que seríamos acusados de um crime. Pois era.
Em vésperas de Natal fiquei fiel depositária de uma quantidade absurda de bacalhau. O auto de notícia seguiu para o Ministério Público da comarca. Estas acções foram amplamente noticiadas pelos orgãos de comunicação social. Pudera, bacalhau em vésperas de Natal!
Confesso que na altura fiquei atónita, mas depois de ter lido o Expresso, percebi que afinal tudo isto terá sido só um lapso, lá devem ter recebido aquele documento de trabalho, por lapso, e resolveram começar logo a trabalhar!
Quanto ao fiel amigo, entendeu o Ministério Público arquivar o processo por não verificar qualquer prática indiciadora de crime, desapreender o bacalhau e destituír-me da condição de fiel depositária.
Fiquei um bocadinho triste porque, como se tinham passado alguns meses, já me tinha começado a habituar à ideia.

1 comentários:

Diogo disse...

Falsos «analistas militares» a soldo do Pentágono

Jon Stewart, do Daily Show, põe a nu a desinformação sobre o Iraque veiculada pelo Pentágono através dos «independentes» meios de comunicação americanos:

Jon Stewart: Olhem para estas adoráveis e bondosas ex-máquinas de matar. Os canais contrataram-nos para dar opiniões de especialistas acerca do esforço bélico do nosso país.

Especialista 1: Estamos a vencer a guerra contra o terrorismo.

Especialista 2: Esta é a força mais bem preparada que já tivemos.

Especialista 3: Esta é a melhor liderança que os militares já tiveram.

Especialista 4: Quando pergunto a amigos meus de longa data do exército, que não vão mentir-me sobre como estamos a sair-nos e se estamos a ganhar ou a perder, eles dizem que estamos a ganhar.

Jon Stewart: Pois parece que muitos destes ex-militares não eram assim tão «ex», trabalhando para empresas de armamento e do Pentágono. Enquanto os canais noticiosos lhes chamam «analistas militares», o Pentágono, em memorandos vindos a público há pouco tempo, referia-se a eles como «multiplicadores de mensagens».

Vídeo legendado em português