Um buraco na muralha
Apenas um sinal (cold drinks) e um buraco na muralha. A selecção faz-se pela curiosidade: apenas aqueles que a tem e se deixam por ela guiar são premiados. Quem se atreve a entrar acede ao mais belo plano panorâmico que a vida pode oferecer e o cinema é incapaz de imitar. É o melhor local de Dubrovnik para ouvir e ver o mar podendo-se mesmo descer até ele como que deslizando na muralha de Dubrovnik. E, no entanto, tudo parece feito para nos fazer sentir como parte de um segredo que apenas a nós foi revelado. É assim há anos neste bar e é um pouco o espírito de Dubrovnik: mais preocupada em manter-se fiel aos que sempre a amaram do que em mudar para satisfazer os que agora a descobrem. Há anos que, por razões académicas, visito esta belíssima cidade do adriático e ela parece conseguir renovar-se sem perder a sua identidade. Não há novas construções: prefere-se restaurar o antigo. A comida é sempre a mesma: scampi buzzara, risotto negro, frito misto, presunto e queijos da dalmatia. E eu, que gosto tanto de criatividade e mudança, fico satisfeito em não ser surpreendido. Há cidades assim, que se querem paradas no tempo mesmo quando as sentimos invadidas pelo progresso. É que as vezes necessitamos de viajar para regressar ao que nos é familiar.
3 comentários:
Miguel, duas breves notas:
1. Que inveja do espírito de Drubovnik. E o menu não me pareceu nada banal.
2. Agora não acredito, mas não acredito mesmo, que o cinema não seja capaz de fazer ainda melhor do que esse buraco na muralha. Essa certamente belíssima paisagem é, quase que aposto, uma das muitas formas ardilosas que a vida arranjou para imitar o cinema.
De facto a beleza pura, como essa paisagem referida, não consente representações, filmadas ou sequer fotografadas, para poder ser fruída em plenitude total.
Mas parece que há opiniões diferentes, como diz logo aqui por cima o ilustre blogger M. Fonseca, para quem a admiração - e o proveito, uma vez que é dono de uma produtora de filmes para televisão, se não estou em erro - pelo 7ª arte do celulóide e das paredes e telas iluminadas com electricidade projectada, o faria, presumo eu certamente por engano e manifesta ignorancia e semi-analfabetismo fílmico (premeditado, devo referir, até porque me dá muito mais prazer olhar e tentar ver e perceber os projectores e quem os maneja na parede oposta àquela onde passam as imagens na sala), dizer que provavelmente também, para ele, que a observação da filmagem dos saborosos menus descritos no Post seria também um prazer superior à degustação directa dos mesmos.
Com os melhores cumpts.,
CCInez
Estimado CCInês, obrigado pelo seu comentário a cuja magia narrativa não me atrevo a contestar. Deixe-me, ainda assim, informá-lo de que a única coisa de que sou verdadeiramente dono é de um delirante sentido de humor, o que imodestamente realço por ser bem raro entre os nativos de Pinhel, entre os quais me conto.
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