Da Visão: Uma batalha sem futuro
As coisas não estão fáceis para os lados da Rua de São Caetano. Desde logo pelas razões óbvias: o PSD não resistiria a mais um delírio populista às mãos de Pedro Santana Lopes. Depois da sua aterradora passagem pelo governo e da experiência surreal que foi o Menezismo, o partido não aguenta mais uma aventura sem rumo, sem norte e sem senso que é tudo o que Santana tem para lhe oferecer. Não aguentaria o PSD e não aguentaria o país. Portugal precisa de uma alternativa credível, confiável, responsável e sobretudo ideológica, substantiva e com futuro no centro-direita do seu espectro político. Santana representa, já o provou vezes demais, o contrário de tudo isto. Adivinha-se a ambição, percebe-se o nervo, compreende-se a incontrolável vontade de ajustar contas com o passado, mas não se vislumbra qualquer projecto político e, desta feita, nem sequer os ingredientes mínimos para fazer face a um Sócrates que, é bom não esquecê-lo, fez de Santana Lopes o seu principal trunfo político nas últimas legislativas.
Mas Santana é um alvo fácil. E mais fácil ainda é criticá-lo fazendo por esquecer que o panorama não é muito mais entusiasmante do outro lado da barricada. E curiosamente é isso, mais do que qualquer outro factor, que preocupa no PSD. Não que Manuela Ferreira Leite não tenha quase tudo o que falta a Santana. Credibilidade, previsibilidade, respeitabilidade. Não que não represente uma pausa saudável no caminho de demência pelo qual o PSD enveredou. O pecado original da sua candidatura é de natureza bem diversa: Ferreira Leite representa, também ela, uma solução sem futuro. É simultaneamente a solução mais óbvia mas também a solução mais fácil. É uma solução federadora mas dificilmente será uma solução mobilizadora. É, inequivocamente, a solução de menor risco mas não aspira a ser mais do que uma solução de transição. Longe de ser uma solução que aponte ao futuro é uma solução que se limita a reparar os estragos do passado. Fadada para dirigir o partido, rumo a uma inevitável derrota em 2009, preparando caminho para uma batalha intestina que se limita a ficar adiada.
Porventura mais relevante, a opção por Ferreira Leite, por muito séria e estimável que seja (e é) a ex-Ministra das Finanças, é a vitória dos mesmos calculismos que abriram caminho ao consulado Santanista e, no Verão passado, à aventura Menezista. É a consequência da deserção das respeitáveis «elites» do PSD que, mais uma vez, se guardam à espera de melhores dias, deixando o partido à sua sorte e o país entregue aos cuidados do Eng.º Sócrates por mais quatro anos. Ora um partido cujas «elites» permanentemente se escondem em momentos de crise é um partido que não tem, nem merece, grande futuro. De Santana, pelo menos, ninguém dirá que lhe falta coragem.
Este é um claro sinal dos tempos. Na batalha pela liderança do principal partido da oposição vão enfrentar-se dois políticos que representam passados antagónicos mas nenhum futuro. É difícil que alguém se entusiasme nestas condições. Perde o PSD e perde o país.
2 comentários:
Os bons e os maus. As elites e as bases. Os cowboys e os índios.
Os «bons» sem coragem e, por vezes, sem carácter, minam na sombra e falam da falta de respeito pelo PSD.
Os «maus», com veia e sem traição, travam o combate político no Partido e no País.
Em Lisboa prefiro os bairros que misturam o povo e a aristocracia às burguesas Avenidas Novas ou aos condomímios dos que chegam à prosperidade.
Na diversidade, o conjunto é mais rico, mais solidário, mais justo e até mais verdadeiro.
No PSD também.
Já tinha saudades de te ler. Beijo. Ivone
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