quarta-feira, 30 de abril de 2008

Da notabilidade

Compreendo o ponto de vista do Pedro Norton, e algumas das críticas que faz, partilho também alguma ansiedade, mas divirjo na solução.
Penso que a solução dos "notáveis" começa a fazer cada vez menos sentido. As razões que aponto são de natureza essencialmente sociológica, ou melhor, económica. É natural por isso que vá aborrecer algumas pessoas que me possam ler.
Há trinta anos atrás, tínhamos políticos que faziam política com evidente brio. No que toca aos partidos de direita, mas também no partido socialista, temos de convir que muitos tinham considerável fortuna pessoal, obtida, por exemplo, através de rendimentos de capital ou rendas de prédios rústicos. Ou seja, tinham os meios financeiros para dispor do tempo como bem entendessem. A política era uma coisa de cavalheiros.
O cenário começou gradualmente a mudar e os rendimentos cada vez mais começaram a ser obtidos através do trabalho desenvolvido por cada um. Ou seja, o tempo disponível começou a ser canalizado para uma profissão. Como sabemos, foi neste contexto, que surgiram os políticos profissionais.
Temos assim: 1 - Os políticos profissionais;
2 - Aqueles que desenvolvendo certo tipo de profisssões - estou a lembrar-me sobretudo dos advogados e docentes - acumulam o exercício profissional com a actividade política;
3 - Os notáveis: são do melhor que Portugal tem: empresários, advogados, consultores, economistas. Ganham, no mínimo, 50.000 Euros/mês. Estou a ser módica para não espantar ninguém. Em regra, ganham muito mais. Significa que cada hora, cada minuto, do seu tempo é precioso.
Nenhum parece muito disposto a abdicar da sua posição para dedicar ao país. Digo, de forma visível, duradoura e responsável. E não nos podemos esquecer que quando o fazem, muitas vezes, não pensam noutra coisa que não seja, no próprio proveito: a influência, os negócios, a notoriedade. Nestes casos, nos dois pratos da balança estão sempre coisas com um peso muito diferente: de um lado, uma retribuição muito alta, do outro a visibilidade. Ficamos muitas vezes com a sensação de que nos estão fazer um frete...
O que quero dizer, é que são as elites, o país precisa deles, que façam bem o seu trabalho, e creio que é mesmo seu dever fortalecerem a sociedade civil. E que esta vigie a actuação do Estado, e que ajude a desenvolver o país.
Mas não podemos esperar que sejam eles a desempenhar os cargos políticos. E assim sendo não vejo que possamos continuar a esperar que desse nevoeiro saia algum D. Sebastião.
Fiquemos com os outros. Podem não ser tão brilhantes, nem tão ricos ou influentes, mas há qualidade ali, e ainda há gente que acredita e se esforça e trabalha.
Quanto às derrotas antecipadas, estou a lembrar-me de umas célebres, há mais de vinte anos, em que o derrotado antecipado obrigou o ganhador antecipado a segunda volta e o resto é história.
Temos um ano pela frente. E como diria um qualquer treinador de futebol, só faz falta quem está.

2 comentários:

Unknown disse...

Sofia: acho que não me fiz entender. Não estou a pugnar por uma solução de notáveis, bem pelo contrário. O meu ponto é precisamente afirmar que, nessa frente, «o rei vai nu». Ninguém é obrigado a dedicar-se à política. Mas também não se pode querer ter o estatuto de «notável» e nunca estar disponível para servir.
Relativamente à MFL, reitero o que escrevi. Não me parece uma solução de futuro e tenho pena que o PSD não consiga gerar uma.

Anónimo disse...

Pedro, estamos então de acordo quanto aos "notáveis", e tem toda a razão quando conclui que se abstenham de querer intervir. Proponho por isso que nos abstenhamos de os convocar para esta "guerra", por três ordens de razões: primeiro porque damos um trunfo ao "inimigo" externo (PS);segundo porque enquanto falarmos neles ninguém se esquece que eles existem, pelo que lhe fazemos um favor, totalmente imerecido; terceiro,e é a razão maior, é que enquanto isso sucede, nos distraimos e nos esquecemos de ver com atenção aqueles que, apesar de tudo, trabalham. Não é verdade que há neste blog pessoas que já desempenharam e desempenham cargos políticos com inteligência, interesse pelo país, rigor, verdade e entusiasmo? Se dissermos que é tudo mau, não corremos o risco de sermos injustos e de também eles desmobilizarem com a falta de reconhecimento?