segunda-feira, 24 de março de 2008

Tibete, religião e política

Uma simples nota para registar a atitude do Dalai Lama na crise do Tibete. Onde muitos gostariam de ver uma posição extremada, encontram "tão-só" uma afirmação radical (radicada). Onde muitos esperavam um grito de revolta, descobrem um enigmático estender de mão. Nem todos percebem, mas um líder religioso que é (ou se sente) governante, dá sempre primazia ao seu carisma espiritual. E não cede, como alguns excogitam tronitruantemente, ao cálculo político.
Em tempos não muito longínquos, também num território sobre ocupação, muitos criticaram a visita de João Paulo II à Indonésia e a Timor. E o seu suposto silêncio. E a ausência do beijo da terra na descida do avião. Mas essa visita supostamente silente revelou-se decisiva para o fim da ocupação, para a chamada de atenção para o drama ali vivido. Foi o rosto da cumplicidade humana com um povo em sofrimento. Há silêncios que falam.
Impressiona-me a profunda humanidade e fraternidade do Dalai Lama para com as mulheres e os homens chineses e a China (não o Governo). Todos compreenderiam um apelo ao boicote dos Jogos Olímpicos, uma especial tolerância para com uma violência espontânea de gente oprimida.
Mas dele ouve-se sempre uma abertura ao diálogo, ao espaço próprio de cada povo, mesmo entre ocupantes e ocupados.
Os homens de boa-vontade nunca recusam falar com os pecadores, sejam os mais miseráveis ou os mais poderosos. O reino deles não é deste mundo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Também fiquei bem impressionado. E se calhar vai conseguir. Há um outro exemplo óbvio nesta senda: Gandhi.

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

É bem verdade. O mundo político, como bem mostra o exemplo do Tibete, rege-se por dois pesos e por duas medidas (hoje em dia talvez mais), razão pela qual, em situações extremas, é quase impossível aos governantes manterem posições ponderadas (de pondus = peso).
Na verdade, esse equilíbrio só é possível quando as decisões se regem por uma outra balança, na qual as questões se elevam para lá da sua gravidade material e são medidas no mundo mais abrangente do espírito.
Ai de nós, ocidentais, quando a crise finalmente cá chegar! Que critério teremos nós?

Anónimo disse...

Ó Dr. Paulo Rangel!!
"Território SOBRE ocupação"?!?!
E censuramos nós os jornalistas e a tlv, quando afinal um político não sabe essa coisa básica, de 4ª classe, que é distinguir entre sob e sobre...
Tchchtchch.