quarta-feira, 19 de março de 2008

O lado lunar e o ensino médio...

De há muito que me interessa especialmente este tópico levantado pelo Miguel Maduro e pelo Rui Tavares. E ponho-me inequivocamente ao lado dos que pensam que a universidade não existe para serviço imediato do mercado. Subscrevo a ideia do Miguel de que as universidades têm a sua quota-parte - e bem grande - de responsabilidade. O mercado é dinâmico, a nossa universidade não.
Mas creio que há também uma forte componente de responsabilidade dos próprios licenciados. Também eles alimentam tenazmente à ideia de que a formação universitária é uma formação profissional ou, pelo menos, um "visto consular" para a vida profissional. Desejam ardentemente que o estudo de quatro ou de três anos lhes garanta um emprego vitalício. E refutam pusilanimemente fazer seja o que for que não se relacione com o seu quadro de estudos. Ou seja, há também responsabilidade individual. E há, evidentemente, uma mentalidade colectiva que a forma e a sustenta.
Tudo isto se me afigura pacífico.
Mas creio que o nosso problema da equação "ensino-mercado" é outro e está no lado lunar. A endémica falta de ensino profissional e de ensino técnico, agora iludida por uma miríade de novas oportunidades, é a maior e mais forte causa do nosso atraso. O problema português não é a universidade. No limite - e sem que, por um minuto, eu o advogue -, Portugal poderia fazer um outsourcing do seu ensino universitário, pagando-o a sistemas estrangeiros. A massa humana de pessoas que abandonam o sistema de ensino, que completam o ensino básico, que atingem o secundário ou que entram no universitário e não dispõem de qualquer know-how é deveras assustadora. Um exército de gente sem qualquer preparação ou qualificação. O que impede a formação de uma classe média do conhecimento, a propósito da qual polemizei já com o Rui Tavares. O mercado exige do Estado, das escolas e das empresas instrumentos de ensino profissional ou técnico. Este, por maioria de razão, em contínuo processo de aggiornamento.
A questão não está apenas na falta de sindicatos de desempregados. Está também na falta de alguém que fale em nome do ensino médio. Como ele não existe, não há ninguém que o defenda ou possa defender.

1 comentários:

Miguel Poiares Maduro disse...

Caro Paulo,

Eu acrescentaria que esse contínuo "processo de aggiornamento" passa por valorizar e melhorar, igualmente, o ensino não formal. Este pode ir desde a aprendizagem no próprio emprego ao que vemos na televisão, passando pela familia ou pelos jogos de computador. Muitos estudos sugerem que somos mais produto desse ensino não formal do que do ensino formal. Sem defender uma abordagem totalitária (um Estado que controle tudo isso...) acho que deviamos ter uma abordagem abrangente para o ensino (que atendesse e promovesse essas diferentes dimensões sociais da aprendizagem).