domingo, 10 de fevereiro de 2008

Scolari, o Anti-Cristo

Agora que a selecção nacional de futebol foi - bem - derrotada pela Itália, talvez seja boa altura para falar disto (a culpa é do Manuel Fonseca, que abriu a caixa de Pandora): de 2004 para cá, várias personalidades de indiscutível competência profissional e agilidade intelectual (Miguel Sousa Tavares, Rui Moreira, António-Pedro Vasconcelos, Rui Santos, entre outras) têm emitido algumas das mais delirantes opiniões das últimas três décadas sobre a selecção.


Luis Felipe Scolari atacou de forma inadmissível a esfera pessoal de algumas destas personalidades, e o comportamento, fora do tempo de jogo, do seleccionador tem sido tudo menos inimputável (com o último "episódio" da troca de carícias com o sérvio Dragutinovic a revelar uma gravidade susceptível de levar à sua demissão).
Nada disso, porém, justifica - se procurarmos uma análise lúcida e racional do que tem sido o comportamento desportivo da selecção nos últimos quatro anos - os excessos opinativos e o desprezo analítico que esses e outros comentadores têm dedicado ao trabalho de Scolari.
Não é sequer necessário rever as imagens do entusiasmo popular pelas performances da equipa nacional de 2004 a 2007 (é outra vez a história da beleza e da consolação: algum desígnio colectivo nos deu tantos momentos belos? E consolação tão arrebatadora?).
Basta analisar os factos: Scolari, que parece ter a teimosia de José Sócrates e o mau génio de um camionista nordestino , é, pelos resultados efectivos, o melhor seleccionador da história do futebol português.
Tentar apagar isto, e assim transformar o reinado Scolari (ou o bispado, se preferirem) numa nota de rodapé ou numa longa, mas passageira, indisposição, é negar a mais pura evidência dos factos.

O futebol é - e é-o independentemente da relação emocional que se tenha com o o jogo - a mais competitiva e internacionalizada marca made in Portugal. Por vezes, é um pouco frustrante ver gente de perspicácia superior a perder qualidades quando se menciona - mesmo que em surdina - a fatídica palavra: "Scolari".

3 comentários:

Miguel Poiares Maduro disse...

Caro Pedro,

O que é particularmente interessante é a estratégia de ataque: "com estes jogadores quem não teria feito o que ele fez". Todos os ataques assumem que o estado natural das coisas era Portugal ser campeão do mundo ou da Europa e, como tal, Scolari falhou... No futebol, Portugal tem um complexo de superioridade...
Eu não sou particularmente fan do Scolari e de algumas escolhas e comportamentos dele mas enquanto tiver melhores resultados que os outros tem todo o meu respeito! Já vimos o que fizeram muitos outros com as sucessivas equipas maravilha e gerações de ouro de Portugal...

Anónimo disse...

É curioso - até na avaliação do carácter e da agressividade já viram que aquilo que é considerado 'estrategicamente genial' em Mourinho, por exemplo, é 'enorme grosseria, falta de chá e evidente motivo de despedimento' em Scolari? E quanto a provocações? - Mourinho provoca porque é genial; Scolari porque é malcriado - E quanto a tácticas? - as equipas de Mourinho defendem porque ele é um tacticista imbatível; as de Scolari, porque é simplesmente medroso (ou pior). Enfim.

Manuel S. Fonseca disse...

Pedro,
De acordo com a tua lógica goleadora, só queria discordar num ponto: há outro basileiro que é também o melhor treinador da selecção portuguesa, o bem cheiroso Otto Glória. Isto do bem cheiroso não é piada. Um dia o Otto chegou a Luanda com o Benfica. Consegui ir para a pista esperá-los (não era dificil) e estava mesmo ali ao lado quando ele e o Coluna desceram a escada do avião. No calor abafado da noite tropical, vinham elegantes e rescendendo a perfume, como se tivessem acabado de tomar banho. Custou-me muito aceitar a ideia de que no avião não havia duche.