José Rodrigues dos Santos: "Pin-up"
Não sei se sou o único, mas a piscadela de olho do José Rodrigues dos Santos, no fim dos telejornais, provoca-me uma irritação instintiva. A questão é mais séria do que parece, e o motivo por que o "pivot" o faz, e eu me irrito, tem muito a ver com os tempos modernos.É uma espécie de abuso de poder. A minha vontade é perguntar: "conhece-me de algum lado?". Sim, quem lhe deu licença de supor intimidades, comigo, (ou já agora com a minha mulher, sentada a meu lado), para nos piscar o olho em cumplicidades que nunca consenti? Suponho que a criatura julga ter criado uma "trade mark" original, um achado de comunicação, sem perceber que ultrapassou a marca da distância interpessoal que apenas se permite aos intimos. O nosso cérebro reage à imagem como há milhares de anos atrás. Uma rapariga em bikini, que pisca o olho do ecrã, mostrando uma garrafa de cerveja, traz uma mensagem clara que o nosso cérebro interpreta como um convite implicito, dirigido individualmente ao espectador singular. José Rodrigues dos Santos sabe que é assim, e com a sua piscadela de olho, passa uma mensagenm de "eu, teu amigalhaço", vendendo não uma marca de refrigerantes, mas ele próprio, transformado em produto de consumo, e já agora, em membro da família com quem se tem a obrigação familiar de ler, (comprar), o livro que escreveu. Se todas as noites, José Rodrigues dos Santos pisca o olho a um milhão de portugueses, todas as noites um milhão de portugueses têm a liberdade de se sentar à sua mesa de restaurante, se o encontram a jantar.
4 comentários:
Nuno: subscrevo por inteiro. A coisa irrita-me quase tanto como aqueles programas para «jovens» em que os apresentadores tratam os espectadores por tu.
Tem toda a razão: Rodrigues dos Santos, arauto da integridade ético-jornalística, arrasa parte da fronteira entre jornalismo e entretenimento, que tão metodicamente defende, com essa pestanita marota. Ao piscar o olho a milhões de espectadores, dos Santos deixa de ser um pivot de informação para se transformar num Eládio Clímaco da era digital onde, mais do que nunca, o meio é a mensagem. Quebrada a necessária distância, porque não lançar um beijinho? Ou um "adoro-vos muito", como gostam de dizer os jovens participantes dos "reality-shows"?
E se le não piscasse o olho aos milhões de espectadores ,como se aproximaria o romancista do seu consumidor? Como é que se vendiam os seus livros. Ele limita-se a fazer o que fazem os políticos quando esperam as 20.00 para fazer as conferências de imprensa. Usam o quarto poder em benefício próprio.O "dos Santos" é só mais um português que tira partido do que paga todos os meses; "a Sua televisão".
acabo de ver isso pela internet(sou espanhola, não vejo normalmente o tj português) e fiquei tão surpreendida que procurei algum comentário sobre essa "piscadela", que achei mesmo ridícula. Ainda bem que não sou só eu. Mas estes comentários são de fevereiro, e o telejornal era de ontem. Deduzo que não deve irritar de igual forma à maioria dos portugueses, ou de outro modo ele já teria deixado de piscar.
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