Da Democracia na América
Volto, como prometido, ao tema das eleições americanas para continuar a conversar com o Miguel Maduro. É minha convicção que, independentemente do resultado da «Super Tuesday» e, por maioria de razão, das eleições do próximo mês de Novembro, Barack Obama já mudou a face da política americana e é, seguramente, um dos fenómenos mais fascinantes que apareceu no universo político nos últimos 20 ou 30 anos. Não discuto (pelo menos aqui) as habilitações do candidato para se sentar na Casa Branca. Interessa-me apenas sublinhar a extraordinária revolução que Obama tem conseguido introduzir na forma de fazer e de viver a política. Num momento em que, um pouco por todo o Mundo, se fala de crise de representação, de afastamento entre eleitores e eleitos, da «mercantilização» da política, é espantoso observar como Obama tem conseguido resgatar, para a discussão e para os debates políticos, enormes franjas da população (nomeadamente os eleitores mais jovens) que dela pareciam irremediavelmente afastadas. É espantoso como tem conseguido devolver um sentido de premência e de acuidade ao debate político. É espantoso como tem conseguido (re)transformar a arena política num território fascinante para ser trilhado. É espantoso como tem devolvido uma dignidade imanente à própria arte de fazer política.
Fá-lo através de um discurso empolgante e de uma espontaneidade desarmante. Fá-lo através de uma reabilitação quase «naïve» dos temas da mudança e da esperança para o léxico político. Fá-lo através da recuperação de um certo imaginário «kenediano» a que nem os Kennedys parecem resistir. Fá-lo, muitas vezes em prejuízo de um discurso mais substantivo, sobrepondo claramente a emoção à razão. Mas fá-lo, ainda assim, com a mestria de quem parece nunca ultrapassar a «thin line» que separa o político idealista do populista desbragado. O que não é dizer pouco.
Em certo sentido, Barack Obama já ganhou. E nesse mesmo sentido, não tenho quaisquer dúvidas, com ele ganhou já a «Democracia na América».
Fá-lo através de um discurso empolgante e de uma espontaneidade desarmante. Fá-lo através de uma reabilitação quase «naïve» dos temas da mudança e da esperança para o léxico político. Fá-lo através da recuperação de um certo imaginário «kenediano» a que nem os Kennedys parecem resistir. Fá-lo, muitas vezes em prejuízo de um discurso mais substantivo, sobrepondo claramente a emoção à razão. Mas fá-lo, ainda assim, com a mestria de quem parece nunca ultrapassar a «thin line» que separa o político idealista do populista desbragado. O que não é dizer pouco.
Em certo sentido, Barack Obama já ganhou. E nesse mesmo sentido, não tenho quaisquer dúvidas, com ele ganhou já a «Democracia na América».
2 comentários:
Caro Pedro,
Concordo plenamente. Já há muito tempo que não se via um candidato tão inspirador e empolgante como Obama. Nem na América, nem muito menos na Europa. É assim que têm surgido os mais variados apoios de muitos quadrantes e personalidades, desde os Kennedy, à mulher de Schwarzenegger, até ao MoveOn.org (que tem mais de 3 milhões de membros). Entre os mais recentes, vale a pena ver o "Yes we can" (http://www.dipdive.com/), bem como o blog Democrata www.dailykos.com. Obama dá fé e há fé em Obama. Mesmo assim, se Obama não conseguir pelo menos um empate amanhã na Super-Tuesday, facilmente o "sonho" de Obama será apenas isso, um sonho. Esperemos que não.
Caro Alvaro,
Obrigado pelo seu comentário. Vamos ver no que dá a Super Tuesday.
Enviar um comentário