quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

La diseuse de bonne aventure

Temos um inteiro ano desconhecido e em aberto à nossa frente. É o momento patético e inocente em que ninguém resiste a tentar adivinhar um futuro menos punitivo. No tarot, nos búzios, no mais simples horóscopo. Somos como o cavaleiro que Georges de La Tour pintou nesta cena diurna e realista, nos antípodas da mínima luz das velas com que, noutros quadros, iluminou as mais negras noites. Também nós, como o jovem nobre de La Tour, nos entregamos, confiantes, à “diseuse de la bonne aventure”. Tudo, no quadro, parece tão claro. E nada poderia ser mais obscuro. Basta passar do geral ao particular.

Há olhos que vigiam.

Há mãos engenhosas que trabalham.

Poderá um quadro de 1632 continuar a ser a parabóla feroz de 2008?

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