Infelicidades
Ferro Rodrigues parou no tempo, refém de um passado que deixou marca. Vê a realidade com olhos magoados. Ressente o país. Ressente a história. Ressente as instituições. Ressente os amigos. Vitimiza-se. Está ferido e frustrado. Incompreendido. Exilado.
Tem contas para ajustar, mas não tem mais nada. Pior: desesperadamente, no meio da mais diáfana fantasia, pretende fundar no dito passado uma auto-estima exangue.
“(…) com muito orgulho, fiz parte de um Governo que fez com que Portugal entrasse no Euro, que lançou o rendimento mínimo e permitiu a milhões de portugueses ascender à classe média.” (Visão, 3 de Janeiro de 2008, p. 28)
Será delírio?, alucinação?, mitomania?! Ferro Rodrigues terá feito o saldo do Euro?! Conhecerá as contas?! E as demais equações em torno de equipamentos desaproveitados, custos de oportunidade e interesse público?! Terá acompanhado as vicissitudes práticas do rendimento mínimo?! Conhecerá a medida da fraude e da injustiça?! Reconhecerá as dificuldades reais dos sucessivos ajustes e correcções?! Ter-se-á apercebido das implicações em matéria de emprego, produtividade e empreendedorismo?! E saberá o nível do salário médio?! O estado do endividamento das famílias?! Achará mesmo que temos uma classe média consolidada??? De milhões?! À custa da irresponsável venda de sonhos e facilidades do tempo guterrista?!...
“Este texto [o Tratado de Lisboa] é uma emenda a vários tratados e não é legível por mais de… vá lá, 20 portugueses, sendo optimista.” (idem, p. 29)
Portanto, o referendo não faz sentido. Espantoso. Ainda bem que se proclama democrata. E, sobretudo, ainda bem que o sabemos socialista. De contrário, reconhecê-lo-íamos apenas como um arrogante. Descarado e acintoso, como é próprio dos casos sem remissão. Um autocrata. Um homem de casta. Um indefectível da igualdade musculada – apenas para alguns, apenas em certas circunstâncias. Por uma participação eugénica! Referendos, só para letrados…
“Não tenho saudades do sistema político-partidário e jurídico-mediático português”. (ibidem)
Mas não retirou benefícios da promiscuidade que agora verbera?! Não depôs em tribunal, recentemente, confessando que se soube objecto da investigação no Processo Casa Pia a partir das (in)confidências de um seu amigo, professor de Direito e, mais relevantemente, marido de uma conhecida procuradora?! Não assumia, ao tempo, que se estava ‘a cagar para o segredo de justiça’?! Não admitiu ter falado com tudo e com todos tentando inteirar-se do que seria o fundo da investigação? Não reconhece, afinal, que foi forçado a desistir quando não conseguiu ir mais longe, quando percebeu que não era ouvido, quando se sentiu impotente e ignorado?!
Pontuada por pérolas destas, a entrevista perde-se. O que é pena. Por um lado, porque nos permite uma óbvia satisfação face à garantida distância a que o entrevistado viverá os próximos anos – e tal sentimento não é simpático. Mas, por outro lado, porque afirmações deste género contaminam toda uma conversa, retirando credibilidade e alcance ao mais que possa ter sido dito.
Lamenta-se, por isso, que, no meio do ruído, se percam alguns alertas deixados por Ferro Rodrigues. Nomeadamente, aquele que lembra que “o Estado de Direito deve levar muito a sério a lição de que bastam duas pessoas, organizadas ou conluiadas, para lançar denúncias caluniosas sobre alguém. É preciso um antídoto para este vírus da calúnia. Senão, a democracia portuguesa torna-se permeável.” (idem, p. 26). Isto sim é fundamental. Tem Ferro Rodrigues toda a razão. Até porque, desde 2003/2004 até hoje, nada melhorou neste aspecto. Muito pelo contrário.
Tem contas para ajustar, mas não tem mais nada. Pior: desesperadamente, no meio da mais diáfana fantasia, pretende fundar no dito passado uma auto-estima exangue.
“(…) com muito orgulho, fiz parte de um Governo que fez com que Portugal entrasse no Euro, que lançou o rendimento mínimo e permitiu a milhões de portugueses ascender à classe média.” (Visão, 3 de Janeiro de 2008, p. 28)
Será delírio?, alucinação?, mitomania?! Ferro Rodrigues terá feito o saldo do Euro?! Conhecerá as contas?! E as demais equações em torno de equipamentos desaproveitados, custos de oportunidade e interesse público?! Terá acompanhado as vicissitudes práticas do rendimento mínimo?! Conhecerá a medida da fraude e da injustiça?! Reconhecerá as dificuldades reais dos sucessivos ajustes e correcções?! Ter-se-á apercebido das implicações em matéria de emprego, produtividade e empreendedorismo?! E saberá o nível do salário médio?! O estado do endividamento das famílias?! Achará mesmo que temos uma classe média consolidada??? De milhões?! À custa da irresponsável venda de sonhos e facilidades do tempo guterrista?!...
“Este texto [o Tratado de Lisboa] é uma emenda a vários tratados e não é legível por mais de… vá lá, 20 portugueses, sendo optimista.” (idem, p. 29)
Portanto, o referendo não faz sentido. Espantoso. Ainda bem que se proclama democrata. E, sobretudo, ainda bem que o sabemos socialista. De contrário, reconhecê-lo-íamos apenas como um arrogante. Descarado e acintoso, como é próprio dos casos sem remissão. Um autocrata. Um homem de casta. Um indefectível da igualdade musculada – apenas para alguns, apenas em certas circunstâncias. Por uma participação eugénica! Referendos, só para letrados…
“Não tenho saudades do sistema político-partidário e jurídico-mediático português”. (ibidem)
Mas não retirou benefícios da promiscuidade que agora verbera?! Não depôs em tribunal, recentemente, confessando que se soube objecto da investigação no Processo Casa Pia a partir das (in)confidências de um seu amigo, professor de Direito e, mais relevantemente, marido de uma conhecida procuradora?! Não assumia, ao tempo, que se estava ‘a cagar para o segredo de justiça’?! Não admitiu ter falado com tudo e com todos tentando inteirar-se do que seria o fundo da investigação? Não reconhece, afinal, que foi forçado a desistir quando não conseguiu ir mais longe, quando percebeu que não era ouvido, quando se sentiu impotente e ignorado?!
Pontuada por pérolas destas, a entrevista perde-se. O que é pena. Por um lado, porque nos permite uma óbvia satisfação face à garantida distância a que o entrevistado viverá os próximos anos – e tal sentimento não é simpático. Mas, por outro lado, porque afirmações deste género contaminam toda uma conversa, retirando credibilidade e alcance ao mais que possa ter sido dito.
Lamenta-se, por isso, que, no meio do ruído, se percam alguns alertas deixados por Ferro Rodrigues. Nomeadamente, aquele que lembra que “o Estado de Direito deve levar muito a sério a lição de que bastam duas pessoas, organizadas ou conluiadas, para lançar denúncias caluniosas sobre alguém. É preciso um antídoto para este vírus da calúnia. Senão, a democracia portuguesa torna-se permeável.” (idem, p. 26). Isto sim é fundamental. Tem Ferro Rodrigues toda a razão. Até porque, desde 2003/2004 até hoje, nada melhorou neste aspecto. Muito pelo contrário.
2 comentários:
Sem dúvida cara Sofia que este homem, é um dor de cotovelo por aquilo que lhe fizeram, mas sem duvida que é vítima de uma organização interna no seu próprio partido para o enviar para a sargeta. Mas deixe que lhe diga que o seu substituto não veio trazer melhores noticias, quer em matérias de organização politica quer nas reformas que tem feito até agora, anda a tapar o sol com a peneira. Ao menos os que se assumem pelo PSD dizem na cara do povo que os elegeu o que vão fazer e querem fazer. Todos mentem sem sobra para dúvidas, mas Ferro Rodrigues tem o olhar atento a uma politica de direita que vem de dentro do seu partido com saudades de uma esquerda utopica.
Muito bem.
Também penso exactamente como a Sofia.
E sinto gosto em saber que há pessoas que pensam como eu.
Sabe, Sofia, é que lendo a imprensa, vendo as TVs e ouvindo as rádios, até parece que o homem anda a dizer grande e desabridas verdades!
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