terça-feira, 22 de janeiro de 2008

II. Curtius, European Literature and the Latin Middle Ages, Princeton / Boellingen Paperbacks

O que aprendem as populações na escola é marcado pela idolatria do descontínuo. A matéria é descontínua (resta saber em que termos e com que limites), as formas de pensamento são discretas, os saltos são quânticos. As criancinhas aprendem o ermamento, que na revolução de 1383-85 apareceu uma nova nobreza (basta ver a genealogia de D. Nuno Álvares Pereira para perceber que isto é dislate), a nobreza galo-romana ou hispano romana ou itálica nem é referida. O mundo é feito de saltos, de cortes, de descontinuidades.

No caso do estudo da literatura este pressuposto ainda é mais cruelmente enunciado. Dão-se as literaturas “nacionais” apenas na língua vernácula. Nesta perspectiva parece que durante o Império Romano se escrevia e depois tivemos de esperar quase oito séculos para voltar a ver documento escrito. E, como toda a gente sabe, os clássicos andaram esquecidos e eis senão quando se chega à Renascença e são redescobertos.

O problema desta visão é que não percebe que as paragens são imagem da falta do próprio fôlego de quem pensa e não da vida que continua. Curtius não foi o primeiro nem o último a perceber isso. Mas teve o mérito de fazer na literatura uma suma, que é obra rara. Outros a fizeram na História como Mommsen, outros na física como Pierre Duhem.

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