quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

I. Newman, Apologia pro uita sua, Dover


Escândalo. Rule Britannia. Nos anos de 1840 via-se um fenómeno que se repetiu poucas vezes na História. Excluindo algumas bolsas no norte de França, na Bélgica e nos Países Baixos holandeses, uma parte de uma ilha estava a anos-luz do restante mundo, tanto sob o ponto de vista tecnológico, como do ponto de vista de poder colonial. Que tenha pago esse sucesso com a atrofia do sistema de Estado é coisa que não preocupava ninguém.

O sistema anglicano era parte desse sucesso. Compromisso político mais que realidade religiosa, embora não se possa pôr em causa a sinceridade religiosa de muitos dos seus adeptos, a destrinça entre High Church e Low Church fazia conviver numa só eclesiologia ortodoxos ocidentais e protestantes. A High Church representava no entanto o que de mais britânico existe, o símbolo deste sucesso.

Em termos simplistas Oxford é o centro da filosofia, da teologia, das ciências humanas, Cambridge das ciências naturais. Oxford aristocrática, Cambridge mais burguesa. Oxford é por isso o centro ideológico directo desta História de sucesso.

De todos os movimentos de legitimação deste sistema, os tractarianos, o chamado Movimento de Oxford, é um dos que mais brado faz em Inglaterra. Uma das vertentes da High Church desenvolve o anglo-catolicismo como demonstração de que a igreja anglicana faz parte da igreja universal; tem não apenas sucessão apostólica, mas é igualmente o verdadeiro desenvolvimento da igreja primitiva.

Pequeno óbice: este movimento foi por muitos levado às suas últimas consequências: muitos dos seus simpatizantes converteram-se ao catolicismo, o que era o inverso do propósito dos anglo-católicos. Alguns anos mais tarde os anglo-católicos tinham grandes expoentes ainda como T. S. Eliot.

Que o Movimento desse brado em Inglaterra seria de esperar. Mas que a análise das fontes cristãs, mais precisamente dos Padres da Igreja e dos primeiros concílios, tivesse como consequência a conversão ao catolicismo era algo de novo em Inglaterra. A História das conversões ao catolicismo, que começa já nos fins do século XVIII, ainda antes da Revolução Francesa, mas continua até meados do século XIX, ainda está por fazer. Que elementos da alta aristocracia da Alemanha até à Rússia, da alta intelectualidade por todo o espaço europeu se tenham convertido ao catolicismo, não se explica por vagas referências ao romantismo e ao espírito anti-revolucionário. Seria simples demais.

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