sábado, 12 de janeiro de 2008

Está uma consciência...

Sei o que vale a produção de uma imagem depois de se ter a prática do enfoque atrás da lente.
Ou seja, é fácil para um ex-jornalista, treinado a observar o objecto político, passar para o outro lado e colocá-lo no ângulo mais favorável, com a iluminação ideal e a oportunidade única.
O desafio está em continuar a trabalhar a verdade sem cair na produção da mentira mais eficaz; em não passar da procura da verdade universal para o encontro com uma verdade oficial. O dilema vem de trás: também ao jornalista, a cada linha, em cada expressão, se coloca o desafio da lucidez e da almejada (gosto deste termo) busca de imparcialidade.
Mas, para quem foi livre de expressão e passa a ser vinculado a uma expressão concreta, é difícil não sentir o carácter redutor que qualquer vínculo encerra. Pode legitimar a sua escolha dizendo que troca a liberdade pela responsabilidade ou que prefere parar de fazer perguntas para dar algumas respostas.

A verdade é que o terreno que passa a pisar está menos defendido em relação à mentira grosseira ou sofisticada. É um mundo de camarins, com lâmpadas atentas às imperfeições e make-ups capazes de dar qualquer solução.
O David Axelrod, que o Manuel Fonseca aqui nos trás no post anterior, é mais um que sentirá, todos os dias, a diferença entre o que é «mostrar a verdade» e o que é «vender o verosímil». Com tanta competência fica a dúvida, porventura injusta: Barack Obama vale o que é? ou vale o que parece dada a excelência do seu maquilhador político?

3 comentários:

João Luís Ferreira disse...

Ou saber se pode valer o que vale sem o maquilhador político?

Inez Dentinho disse...

Se for bom, Obama transforma o maquilhador num leal conselheiro, sem com isso perder o descernimento nem os eleitores.

Inez Dentinho disse...

gralha: discernimento