terça-feira, 11 de dezembro de 2007

What are we all about?

Acabei de participar num colóquio sobre emprego para deficientes. A pergunta que imediatamente me ocorre, é (muito) politicamente incorrecta, em particular, para quem trabalha na minha àrea profissional: porquê descriminar positivamente os deficientes, num País com mais de 8 % de desempregados, muitos deles com encargos familiares que atingem milhares de pessoas? A resposta só pode ser ética: é um esforço que vale a pena porque queremos viver numa sociedade solidária e que cuida dos seus elementos mais vulneráveis. Ética e ideológica. Mas como lutar por essa sociedade, quando a preocupação se centra nos líderes e não nas ideias? nas pessoas e não nos modelos? e também quando se confunde os meios com os fins: o equilibrio da balança de pagamentos surge como objectivo ultimo, sem discussão de como distribuir ou utilizar a riqueza que se produz, ou o ganho económico que no futuro daí virá. E finalmente, como lutar por uma sociedade ética em competição num mundo global, onde os próximos competidores como a Índia ou a China, não se preocupam com essas "miudezas"? A resposta, creio, vem de que uma sociedade baseada em princípios éticos e nos valores democráticos será uma sociedade de liberdade e creatividade, e em última análise capaz pela inovação, competência e justiça, de estar sempre mais à frente.

1 comentários:

Inez Dentinho disse...

Existe a expressão «shrink to feet» para uma manobra de computador que significa qualquer coisa como encolher um documento e pô-lo no rodapé.
É isso que faço quando, ao ler o post do Nuno - elevado e merecedor de um comentário sobre a ética e a sociedade - que me lembro de um exemplo concreto que me é próximo. Reporta a uma rapariga, com um ligeiro atraso, a quem morre o Pai e a Mãe, como é natural. Consegue por sorte um emprego temporário no arquivo de uma Câmara Municipal. Todos os dias se aplica, com um prefeccionismo mecânico, na arrumação dos documentos. Sem ninguém saber, tira um curso menor de arquivismo, à noite.
Chega o dia em que o autarca quer fazer cortes no pessoal e determina, em reunião de Câmara, que os que não têm formação serão dispensados. Todos apontam o dedo para a miúda «atrazada» do arquivo, como exemplo de flagrante desperdício de recursos públicos. Todos não. O chefe diz, sem favor de quota, que se trata da mais cumpridora e meticulosa funcionária daquele departamento. «Mesmo assim, não tem formação» insistem os colegas. Apurado o processo até ao fim, verifica-se que é a única que pode ali continuar a trabalhar. O que acontece. Hoje é uma pessoa independente e preparada para cumprir em pleno com a sociedade. Outros casos haverá. Piores. Ainda melhores.
O post do Nuno fez-me lembrar esta sequência de comportamentos éticos que aconteceu diante de mim.