Sócrates, um herói de plástico? De plástico duro.
Sabem quem é Jean Quatremer? Um jornalista francês. Do Libération. Especialista em assuntos europeus.
Ora, Jean Quatremer foi convidado para jantar em São Bento, com José Sócrates. Jantou, portanto. E, manifestamente, gostou.
Alguns dias antes, recebeu um telefonema de um “próximo” do Primeiro-Ministro, perguntando-lhe “o que ele queria comer”… Ficou siderado. Mas o inusitado desvelo ainda lhe permitiu substituir por pato o sugerido bacalhau.
Depois, Quatremer entregou-se ao charme do seu anfitrião. Apreciou a informalidade, a disponibilidade, a absoluta serenidade do encontro – no tête-a-tête de São Bento, não sentiu qualquer pressão nos horários, qualquer indício de uma agenda cheia. Sócrates aparentava ter todo o tempo do mundo para Quatremer... Da conversa resultou o elogio rendido. Para Quatremer, Sócrates é sinónimo de sucesso: da harmonização do IVA à sonda espacial Galileu ou à proeza máxima do Tratado de Lisboa.
Mas Quatremer vai mais longe e ensaia o retrato do político e do estadista. Revela um Sócrates hábil, moderno, reformista, convicto. Mais: um Sócrates feito à sua própria custa, obra de esforço e vontade, vítima da hostilidade que envolve os que singram sozinhos, sem padrinhos, contra ventos e marés. Na essência, portanto, um homem admirável. E Quatremer não se poupa: Sócrates reduziu drasticamente o défice público, reformou a segurança social, começou a diminuir o número “pletórico” (sic.) de funcionários públicos, promoveu a avaliação do mérito no Estado. Enfrentou tudo e todos, polícias, militares, juízes, diplomatas. Prova da sua coragem, três greves gerais, que aguentou sem tréguas. Pelo caminho, este estadista de visão não esqueceu sequer a agenda social: aborto, paridade, procriação assistida. Ao pé disto, Sarcozy é um mero aprendiz – na expressão de Quatremer, as suas reformas, quando comparadas com as de Sócrates, não passam de “sympathiques amuse-gueules”…
Em suma, um ícone da esquerda moderna. Um homem dinâmico, desempoeirado, tenaz. Provinciano? Talvez, mas sem complexos. O seu percurso é um tributo à possibilidade do êxito construído. Arrogante? Não. Apenas um homem determinado, que se convence da sua razão e não larga…
Sócrates segundo Quatremer é, afinal, o puro nirvana. Expressão paroxística da montagem publicitária, polida, vácua e inócua, de que falava Vasco Pulido Valente, há dias, no Público (vd. Sócrates: auto-retrato, 9 de Dezembro de 2007).
Ora, Jean Quatremer foi convidado para jantar em São Bento, com José Sócrates. Jantou, portanto. E, manifestamente, gostou.
Alguns dias antes, recebeu um telefonema de um “próximo” do Primeiro-Ministro, perguntando-lhe “o que ele queria comer”… Ficou siderado. Mas o inusitado desvelo ainda lhe permitiu substituir por pato o sugerido bacalhau.
Depois, Quatremer entregou-se ao charme do seu anfitrião. Apreciou a informalidade, a disponibilidade, a absoluta serenidade do encontro – no tête-a-tête de São Bento, não sentiu qualquer pressão nos horários, qualquer indício de uma agenda cheia. Sócrates aparentava ter todo o tempo do mundo para Quatremer... Da conversa resultou o elogio rendido. Para Quatremer, Sócrates é sinónimo de sucesso: da harmonização do IVA à sonda espacial Galileu ou à proeza máxima do Tratado de Lisboa.
Mas Quatremer vai mais longe e ensaia o retrato do político e do estadista. Revela um Sócrates hábil, moderno, reformista, convicto. Mais: um Sócrates feito à sua própria custa, obra de esforço e vontade, vítima da hostilidade que envolve os que singram sozinhos, sem padrinhos, contra ventos e marés. Na essência, portanto, um homem admirável. E Quatremer não se poupa: Sócrates reduziu drasticamente o défice público, reformou a segurança social, começou a diminuir o número “pletórico” (sic.) de funcionários públicos, promoveu a avaliação do mérito no Estado. Enfrentou tudo e todos, polícias, militares, juízes, diplomatas. Prova da sua coragem, três greves gerais, que aguentou sem tréguas. Pelo caminho, este estadista de visão não esqueceu sequer a agenda social: aborto, paridade, procriação assistida. Ao pé disto, Sarcozy é um mero aprendiz – na expressão de Quatremer, as suas reformas, quando comparadas com as de Sócrates, não passam de “sympathiques amuse-gueules”…
Em suma, um ícone da esquerda moderna. Um homem dinâmico, desempoeirado, tenaz. Provinciano? Talvez, mas sem complexos. O seu percurso é um tributo à possibilidade do êxito construído. Arrogante? Não. Apenas um homem determinado, que se convence da sua razão e não larga…
Sócrates segundo Quatremer é, afinal, o puro nirvana. Expressão paroxística da montagem publicitária, polida, vácua e inócua, de que falava Vasco Pulido Valente, há dias, no Público (vd. Sócrates: auto-retrato, 9 de Dezembro de 2007).
Uma invenção, o herói de plástico? Quatremer não se impressiona: se é de plástico, é de “plástico duro”!
Notável, hã? Tudo por conta de umas ameijoazinhas e do tal pato…
Notável, hã? Tudo por conta de umas ameijoazinhas e do tal pato…
1 comentários:
Felipe Gonzáles também começou assim. E agora é o novo Giscard D'Estaing para o novo futuro da Europa. Não há dúvida de que Sócrates marcou pontos lá fora. Cá dentro é que as coisas estão um pouco, como dizer?, chochas.
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