segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Olha, calou-se!

De vez em quando, acontecem coisas que nos fazem pensar que há no concerto do mundo e dos homens alguma justiça poética. Os venezuelanos acabam de dizer não, nas urnas, ao referendo que o generalíssimo Hugo Chávez lhe submeteu.

Apesar do controle, apesar dos sinais de intimidação, a maioria recusou apoiar o referendo que o presidente propunha: “¿Está de acuerdo en aprobar el proyecto de reforma constitucional preparado por la Asamblea Nacional con la participación del pueblo y basado en la iniciativa del presidente Chávez?”. É a primeira vez, desde 1998, desde que Chávez se deixou possuir por um putativo espírito bolivariano, que os eleitores lhe dizem "basta ya". Abortou-se o golpe de estado constitucional com o qual Chávez se propunha instaurar na Venezuela o “socialismo do século XXI”, ou seja, e em bom portinhol, uma rematada ditadura caudillista (poderia candidatar-se um número ilimitado de vezes, teria o direito a censurar a imprensa em situações de crise, bem como o direito a controlar a banca).

A vitória da oposição, nas condições em que foi obtida, é menos pírrica do que Chávez veio dizer e tem até uma dimensão transnacional que pode iluminar os caminhos da democracia noutros países da América Latina. Que esta pequena consolação não nos faça esquecer os séculos de injustiça e desigualdade que criaram e criam terreno fértil para o aparecimento destas figuras de camuflado e bota pesada.

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