segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O Maquiavel de Alijó



Nem Sócrates é Lourenzo di Medici, nem eu sou (hélas!) Niccolò Machiavelli. Mas se eu tivesse a imensa fortuna de ser consultado pelo nosso Primeiro Ministro e se este me pedisse conselho sobre a forma de manter e engrandecer o seu iluminado poder, dir-lhe ia uma coisa muito simples: «controla os media e a banca; por esta ordem e sem contemplações; tudo o resto vai ao sítio».

Que eu não sou Machiavelli, repito, é uma cruel evidência. Mas que Sócrates, generoso, me vai seguindo a cartilha não é menos claro e a constatação enche-me de compreensível orgulho. Senão vejamos:

1 - Na RTP a limpeza está finalmente consumada. De forma magistral Sócrates conseguiu afastar aquela que provavelmente foi uma das administrações mais incómodas para qualquer poder político que aquela casa conheceu. Fê-lo com eficiência e rapidez. Mas fê-lo sobretudo evitando o coro de protestos que se adivinhava se as circunstâncias da mudança não tivessem sido eficazmente encenadas. Chapeau. Na TVI, devidamente ungida pelo Cardeal Pina Moura, o Eng.º sabe que conta com a sensatez de uma Prisa habituada a anos de profícuo convívio com o poder socialista e vê seguramente com bons olhos o aparecimento do seu novo canal de notícias. A PT está para o estado português como a Gazprom está para Putin e só o Pai Natal acredita que a com a PT.com a história vai ser diferente. O 5º canal não deixará de ir parar a mãos amigas. E sobre todos os outros paira, omnipotente, a famigerada ERC.

2 - Agora é a vez da Banca. O maior banco português é público e recebe ordens directamente do gabinete do Primeiro Ministro (lembram-se da opa sobre a PT?). Faltava que alguém zelasse pelos interesses do PS no maior banco privado português. Ora existirá melhor guardião desses sagrados interesses que o diligente Dr. Vara? Chapeau. Encore Chapeau.

1 comentários:

Sofia Galvão disse...

Sobre o Primeiro Ministro que temos e, em especial, sobre o seu modo característico de exercer o poder, julgo que partilhamos o essencial. Liberdade, pluralismo, direito à opinião e à afirmação da diferença, superioridade da lei e do Direito, santidade da justiça, intangibilidade dos direitos e garantias dos cidadãos são ideais abstractos e etéreos, postulados teóricos de livros não lidos.
Não me espanta, portanto, que espreite todas as oportunidades para assegurar o controlo da televisão e da banca. Como não me espanta, aliás, que o faça com irrepreensível mestria e eficácia. Há que reconhecer que, nessa matéria, estamos perante um talento de primeira grandeza.
Agora, o que me surpreende - isso ainda surpreende, confesso - é a facilidade com que o faz. Deixando o caso da televisão - que revela, aliás, mais sofisticação e subtileza -, a inusitada tranquilidade com que os principais accionistas do BCP recebem o nome de Santos Ferreira é de pasmar. Não, evidentemente, por Carlos Santos Ferreira não ter perfil ou competência para o cargo. É óbvio que se trata de um nome respeitado e respeitável que pode ser presidente de qualquer banco ou outra instituição maior. Mas apenas porque as coisas são o que são e ir buscar Santos Ferreira é ir buscar aquele que, nos últimos tempos, foi a cara do banco do Estado. Não havia mais ninguém?... Não há mais ninguém?!
Uma escolha infelicíssima, portanto. Que seria difícil piorar não fosse a peregrina ideia de anunciar Armando Vara para vice-presidente.
Lamentável sinal para um capitalismo que não amadurece e não promete aquilo que o país dele exigiria.
Como disse Vasco Pulido Valente, há dias, no Público: simbólico.






Neste registo, o controlo da televisão e da banca é, portanto, a uma arma cujo controlo importa