Noches de Ronda
Há um tempo para todas as coisas. Eu perdi, a propósito dos "Led Zeppelin", o tempo para atacar a provocação do Pedro Norton e o comentário de requintado connaisseur do Gonçalo. Não, não meti a viola no saco. Bastou-me o colapso de um modem e o desfasamento (mea culpa) de um par de telefonemas com a netcabo para que, de repente, saísse da globalização, da populosa e vibrante metrópole virtual, e desse comigo sozinho, na límpida rua da minha aldeia, durante três longas noites, três tristes séculos, numa solidão de livros, jornais e música. Como é que hoje alguém sobrevive à cruel ausência da net?
Seja como for, I’m back. Perdeu-se a oportunidade, mas não esqueço. Venha o próximo e concertado incunábulo rock ‘n roll e prometo que o meu irrepreensível gosto kitsch (ou será camp?) reabilitará as mais gongóricas bandas, todas as bandas que me façam voltar “a la casa de mi infancia”. Do Alvin Lee dos “Ten Years After” ao Peter Green dos “Fleetwood Mac”.
Seja como for, I’m back. Perdeu-se a oportunidade, mas não esqueço. Venha o próximo e concertado incunábulo rock ‘n roll e prometo que o meu irrepreensível gosto kitsch (ou será camp?) reabilitará as mais gongóricas bandas, todas as bandas que me façam voltar “a la casa de mi infancia”. Do Alvin Lee dos “Ten Years After” ao Peter Green dos “Fleetwood Mac”.
Ah, pois, Pedro, e se quiser música, garanto que também lhe arranjo uns boleros para uma noche de ronda. Coisas de faca na liga e atirar a matar.
1 comentários:
Ah, Manuel muito Blues S. Fonseca, bem lembrado essa dos Ten Years After e do Alvin Lee _ poderá não ter sido o mais virtuoso dos guitarristas mas foi, com certeza, qual Lucky Luke, o mais rápido de todos, com os dedos a dedilharem mais rápidos que a sua própria sombra. Muito Woodstock também, por onde deambularam igualmente uns magníficos Canned Heat, entre outros não menos notáveis.
De qualquer modo, é sempre bom termos uma casa da nossa infância onde regressarmos, e podermos lembra-nos de outros hoje mais esquecidos, como, relembrando os idos do «Flower Power», uma Melanie, com a sua cristalina voz sempre a parecer na eminência de se pulverizar em notas de pura e etérea luz, conseguindo mesmo interpretar uma canção como Ruby Tuesday como se tivesse sido escrita para ela, dando-lhe toda a desesperada raiva e doce encanto como só ela saberia dar. E não é, de facto, fácil interpretar os Stones a essa altura. Aliás, basta ver, ouvir, a deslavada interpretação do Sister Morphine da pobre Marianne Faithfull, quando ela própria sempre afirmou ter-lhe sido essa canção roubada pelo Mick e o Keith, ou, para não ir mais longo, da versão pró-country do Wild Horses dos Flying Burrito Bros _ e se eles não eram bons...
Melanie, que até teve um álbum com um inspirador e muito português título, «Madrugada» e tinha, na verdade, mais valor do que aquele que lhe foi atribuído. Mas, claro, hoje apenas memória serôdia.
No entanto, se é de «blues» que falamos, deixando os inevitáveis B.B. King, os Muddy Watters e tutti quanti do lá de lá do Atlântico, limpemos o pó aos Blues Breakers, John Mayall e Eric Clapton, bastando ouvir o «Key to love» para percebermos como os «blues», deste lado de cá, quando assim tocados, sempre tiveram um toque de charme que, do lado de lá, não obstante a sua genuinidade, ou talvez até por isso mesmo, nunca alcançaram. Ou será que sou eu que talvez não seja assim tanto de «blues»?...
Enfim, não comecemos a remexer demasiado a memória ou ainda transformamos este «blogue» numa condoída evocação dos gloriosos dias dos idos de 60 e inícios de 70 e, começando a ir buscar alguns mais esquisitos, exóticos, excêntricos ou simplesmente mais esquecidos, como um Captain Beefheart, do lado de lá, ou, do lado de cá, uns Soft Machine, de uns estranhos Robert Wyatt e, sobretudo, para lebrar um Kevin Ayers _ sim, esse mesmo, o do «Joy of a Toy», onde tocava também, quem diria, um rapazito chamado Mike Oldfield, o tal que viria a fazer a fortuna do Robert Branson, com o Tubular Bells, o primeiro disco a ser editado pela Virgin, um dos maiores êxitos de vendas de sempre quando todos não vaticinavam senão um rotundo fracasso ao primeiro «concept álbum» instrumental do pop-rock, terminemos a dizer que tudo acabou por volta de 75, com o «disco» e aquele inominável mas inesquecível Kung Fu Fighting, de não sei já quem mas, espero, sinceramente, não voltar, nunca mais, a encontrar A´distância audível dos meus pobres ouvidos.
Memórias, memórias, memórias; pó, pó, muito pó _ ou talvez simplesmente uma idade em que tudo isto nos começa a ser desculpável e desculpado. Afinal, se os Led Zeppelin ainda mexe _ e parece que bem...
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