Quando o Manuel S. Fonseca desafia…
“(…) não é tanto a aquisição de coisas, mas principalmente a nossa relação com nós próprios e com os outros que condiciona as nossas maiores alegrias e tristezas.” (Gilles Lipovetsky, A felicidade paradoxal – ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo, Edições 70, Lisboa, p. 161, linha 5)
Dir-se-á que também o acaso requer sorte ou talento. Talvez por isso tenha feito saltar da estante uma aparente banalidade…
E, no entanto, as banalidades podem enganar. O que é banal toma-se por consensual e, nesse sentido, por pacificado. Mas, afinal, há apenas ausência de questionamento. Daí que, na medida de cada repetição acrítica, o banal se negue ou, por outras palavras, negue a essência da sua verdade.
Aliás, o mote de Lipovetsky pode ser bem eloquente. Porque, ao arriscar tal via de resistência à pressão da sociedade de consumo e ao seu projecto de felicidade paradoxal, Lipovetsky parece não ver o óbvio. Ou seja, a inevitabilidade de esse humaníssimo caminho – a nossa relação com nós próprios e com os outros como condição das nossas maiores alegrias e tristezas – se fazer, cada vez mais, de acordo com os princípios e as regras da sociedade do hiperconsumo.
As relações converteram-se em modas. As relações consomem-se. As relações exibem-se e competem. Há um mercado das relações. Para alimentar a produção e a dinâmica dos circuitos, as relações tornaram-se descartáveis. Temporárias. Fungíveis. Precárias.
Nesse sentido, as relações – todas, as cada um consigo mesmo, as de pais e filhos, as de maridos e mulheres, as de amantes e amigos – fragilizaram-se. Pior, atingindo mais fundo a equação de Lipovetsky, depreciaram-se. E, assim sendo, perderam a capacidade de resistir. Contaminadas pela lógica hiperconsumista, tornaram-se, afinal, parte do problema.
Ou não?...
Dir-se-á que também o acaso requer sorte ou talento. Talvez por isso tenha feito saltar da estante uma aparente banalidade…
E, no entanto, as banalidades podem enganar. O que é banal toma-se por consensual e, nesse sentido, por pacificado. Mas, afinal, há apenas ausência de questionamento. Daí que, na medida de cada repetição acrítica, o banal se negue ou, por outras palavras, negue a essência da sua verdade.
Aliás, o mote de Lipovetsky pode ser bem eloquente. Porque, ao arriscar tal via de resistência à pressão da sociedade de consumo e ao seu projecto de felicidade paradoxal, Lipovetsky parece não ver o óbvio. Ou seja, a inevitabilidade de esse humaníssimo caminho – a nossa relação com nós próprios e com os outros como condição das nossas maiores alegrias e tristezas – se fazer, cada vez mais, de acordo com os princípios e as regras da sociedade do hiperconsumo.
As relações converteram-se em modas. As relações consomem-se. As relações exibem-se e competem. Há um mercado das relações. Para alimentar a produção e a dinâmica dos circuitos, as relações tornaram-se descartáveis. Temporárias. Fungíveis. Precárias.
Nesse sentido, as relações – todas, as cada um consigo mesmo, as de pais e filhos, as de maridos e mulheres, as de amantes e amigos – fragilizaram-se. Pior, atingindo mais fundo a equação de Lipovetsky, depreciaram-se. E, assim sendo, perderam a capacidade de resistir. Contaminadas pela lógica hiperconsumista, tornaram-se, afinal, parte do problema.
Ou não?...
2 comentários:
Cara Sofia,
A escolha da sua citação é tão impressiva quanto angustiante. Não há mesmo saída? Por exemplo, estarmos aqui a escrever, num processo puramente lúdico, inocente e gratuito, não é já uma alegria que escapa à "alienação" do hiperconsumo?
O ponto, Manel, é que o homem falava das nossas maiores alegrias e tristeza. E isso, ainda que por aqui se nos permitam alegrias (as tristezas, essas, ficam-se com algum comentário mais idiota), escapa ao registo lúdico, inocente e gratuito. Pela própria natureza das coisas.
Aliás, já quanto à alienação, longa conversa seria possível. No fundo, no fundo, ela espreita. Mesmo quando os pretextos (e/ou os propósitos) parecem insuspeitos...
Mas, enfim, o meu tópico era o superlativo. As nossas maiores alegrias e tristezas... Porque acredito que temos um problema sério em matéria de superlativo. É ele que falha. É ele que faz falta.
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