O cinema cura
Há um novo e miraculoso livro no mercado. O título, “Guia Terapêutico de Cinema” é atraente e directo quanto basta. Aparentemente pouco dado a elipses, o autor, Pedro Marta Santos, não resistiu e acrescentou-lhe um subtítulo que retira dúvidas e esclarece angústias: “Como curar insónias, fobias, depressões e desastres amorosos”. O resultado é uma lição de que o Serviço Nacional de Saúde sai corrido, como popularmente se diz, aos gritos de “toma e vai-te tratar”. O Pedro receita filmes e basta ler o que ele diz para perceber que, se os virmos, recuperaremos o bem-estar, a sanidade mental, ou mesmo um vigor igual ao de qualquer um daqueles armários da selecção nacional de rugby. Cada capítulo tem o seu folheto médico que inclui contra-indicações, efeitos secundários e interacções medicamentosas, sem esquecer os terríveis efeitos da interrupção dos tratamentos. Também há, para os mais sovinas, dispensários e os genéricos de lei.
É verdade, os filmes ganham aqui uma força salvífica e regeneradora única. Cortem nos ansiolíticos, reduzam as consultas e evitem as TAC: decididamente os portugueses têm agora uma alternativa científica à toda poderosa classe médica. Não é, de resto, a única classe profissional a ver diminuído o seu monopólio: o livro exercita algumas técnicas de relaxamento que vão diminuir, quer as viagens dos portugueses à Tailândia, quer a nossa escravização ao jugo dos monitores dos health clubs.
Admito que as minhas qualificações denunciem a presença parcial de fármacos pouco aconselháveis para avaliar este livro que Pedro Marta Santos acaba de publicar (e escusam de me pedir para dizer o nome da editora). Confesso alguma duvidosa cumplicidade com o autor, forjada nos subterrâneos laboratórios da SIC Filmes e, agora, da VC Filmes. Antecipo-me e confesso já um incurável conflito de interesses: estou à espera de que as “farmácias” que o têm à venda, por esta e futuras recomendações, mandem de volta o amável cheque para a viagem a um congresso no Hawaii. Mas só vou se me deixarem levar o “Guia Terapêutico de Cinema” na bagagem.
É verdade, os filmes ganham aqui uma força salvífica e regeneradora única. Cortem nos ansiolíticos, reduzam as consultas e evitem as TAC: decididamente os portugueses têm agora uma alternativa científica à toda poderosa classe médica. Não é, de resto, a única classe profissional a ver diminuído o seu monopólio: o livro exercita algumas técnicas de relaxamento que vão diminuir, quer as viagens dos portugueses à Tailândia, quer a nossa escravização ao jugo dos monitores dos health clubs.
Admito que as minhas qualificações denunciem a presença parcial de fármacos pouco aconselháveis para avaliar este livro que Pedro Marta Santos acaba de publicar (e escusam de me pedir para dizer o nome da editora). Confesso alguma duvidosa cumplicidade com o autor, forjada nos subterrâneos laboratórios da SIC Filmes e, agora, da VC Filmes. Antecipo-me e confesso já um incurável conflito de interesses: estou à espera de que as “farmácias” que o têm à venda, por esta e futuras recomendações, mandem de volta o amável cheque para a viagem a um congresso no Hawaii. Mas só vou se me deixarem levar o “Guia Terapêutico de Cinema” na bagagem.
1 comentários:
Essa tabela de alienações altera o produto final?
O livro do Pedro Marta Santos é original, vai ser um sucesso editorial e terá utilidade prática.
Faz-me lembrar um pouco Mia Farrow e a Rosa Púrpura do Cairo. Ou as caras das senhoras de 50 e 60 anos quando saiem das salas de cinema do Corte Inglês, a meio da tarde num dia de semana.
Por não querer diminuir a causa com o efeito; porque a arte é regeneradora sem propósito, prefiro a tela sem receita de sucesso e a leitura isenta de profilaxias mantendo intacta a liberdade e o risco de um sofrimento maior.
Enviar um comentário