Os radares
Os portugueses, já se sabe, não têm um grande sentido comunitário. Basta olhar para os jardins, paredes e espaços públicos um pouco por todo o país. Basta analisar o número, a representatividade e a vitalidade das associações cívicas, dos «think tanks», dos movimentos de cidadãos que, de resto, praticamente não existem. Culturalmente estamos nos antípodas da tradição anglo-saxónica que Toqueville tão bem descreveu. Verdade?
Nem sempre. Aparentemente há portugueses que resistem. Que, parafraseando Manuel Alegre, não se deixam calar. Que se indignam, se organizam e protestam. Só é pena que este tipo de movimentos nasçam pelas razões erradas. Ou não encontrará esta gente nada melhor para se indignar do que uns radares que tentam controlar o trânsito num país com taxas de mortalidade rodoviárias terceiro-mundistas? Será esta uma causa pela qual vale verdadeiramente a pena lutar?
Estranha concepção de cidadania esta.
7 comentários:
-Como assinante da petição, e independentemente dos juízos de valor, quero esclarecer que a petição visa alterar o limite de velocidade em apenas algumas artérias, e não por toda a cidade, dos quais o exemplo mais absurdo é o prolongamento da av E.U.A. com todas as viaturas a travar á passagem pelo radar, para acelarar de seguida, estou a falar duma via com 3 faixas de rodagem em cada sentido, excelente piso, separador central e não atravessada por peões!
Sem prejuízo da minha proverbial desconfiança por ajuntamentos de mais de duas pessoas, que é meio-salazarista pelas pidescas razões que a História relata, e meio marxista pela influência e variante grouchiana que não admite que ninguém que se preze aceite ser sócio de um clube que o aceita como sócio, gostava “hic et nunc”, sem a menor preocupação cívica, mas a inescapável requerimento do meu burguesíssimo e estafado Audi, de pedir para me deixarem carregar só mais um bocadinho no pedal. Pronto, como agora se diz, só 60 onde agora marcam 50. É que, assim, nem ultrapassam nem saem de cima.
Caros António e Manuel,
O essencial da questão não, é para mim, saber se o limite deve ser de 50, de 60 ou de 70. Nem tão pouco sei garantir, do ponto de vista técnico, que não existem radares onde, manifestamente, isso possa não fazer sentido. O que realmente me incomoda é que não me lembro de ver tanta petição e tanta capacidade de mobilização quando se trata de tentar acabar com esse verdadeiro flagelo que são as mortes na estradas portuguesas. Essa sim devia ser uma causa capaz de mobilizar vontades e esforços de todos nós. Mas dir-se-ia que convivemos melhor com esssa quotidiana tragédia (só acontece aos outros?) do que com o incómodo que estas restições de velocidade agora provocam.
O Pedro tem razão, eu também acho que se conduz, algumas vezes, selvaticamente em Portugal. E, de vez em quando, assusto-me. Mas também é verdade que há quem combata a "pandemia" rodoviária. É o caso da ACA-M (Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados), com destaque para um dos seus dirigentes, Manuel João Ramos, cujas motivações para essa batalha cívica são mais do que legítimas.
Caro Pedro,
esta petição, que acabo de assinar depois de ter sido informado pelo seu texto, é em primeiro lugar sobre os limites do absurdo. E o absurdo é a existência de um radar numa «via rápida» (prolongamento da Av. EUA) e não na própria Av. EUA - onde vivem pessoas e onde há atropelamentos.
Os caminhos da indignação levam-nos, por vezes, à ultrapassagem de alguns limites. Neste caso prefiro estar deste lado do que do lado da arbitrariedade.
Cumprimentos do,
Vítor Cunha
-Tendo já percorrido mais de um milhão de kms nas nossas estradas, obviamente que já assisti a inúmeros disparates, alguns porque não dizê-lo, cometidos por mim próprio, que não sou nenhum santo, nem excepção, mas também não sou criminoso, até porque necessito da carta de condução por motivos profissionais, e até hoje só tive 1 mês de carta apreendida, mesmo assim com pena suspensa por 1 ano, e mais uma ou outra multa, a maior parte das quais por mau estacionamento. E aí é que aponto criticas à legislação, que confunde excesso de velocidade com velocidade excessiva, para além de que colocar radares num local e não monitorizar o resto da via não é eficaz por aí além. O primeiro ministro gosta de dizer que devemos importar as boas prácticas europeias, vejamos então a Alemanha, dizem uns, eu incluido, por lá não existem limites de velocidade nas auto estradas, mas se as condições de circulação o aconselharem, neve, nevoeiro, chuva, tráfego, ele aparece, e ai de quem desobedecer, as estradas são monitorizadas, comportamentos agressivos como por ex. colar ao veículo da frente, por lá alcunhados de perseguidores, são imediatamente interceptados, ou seja lá optam por previnir a manobra perigosa e a falta de civismo, por cá opta-se por previnir o excesso de velocidade. São opções, mas os resultados demonstram quais as melhores, embora existam outras variantes, como o estado das vias, o parque automóvel, o que nos iria levar à fiscalidade, mas já era outro assunto...
Portugal dos Pequeninos
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