O que se passa com o Público?
Faço quase todos os dias um esforço por comprar o jornal. Muitas vezes só dá para uma leitura de 5 minutos e por isso dou por mim a pensar que é um desperdício de papel. Mas como acredito que a qualidade só será aumentada pelo mercado, isto é, com maiores vendas, lá faço o meu gesto diário de escuteiro. Acontece que às vezes não percebo o que vem lá escrito e as campanhas que lá se desenvolvem. Esta última, contra uma comissão de regulação, então, é para mim verdadeiramente enigmática. Confesso que também não tive paciência para a ler. Alguém ajuda a explicar o que se passa? Mesmo que a tal entidade esteja a funcionar muito mal - o que é quase certo, atendendo a que são jornalistas a controlar jornalistas - justifica-se esta campanha por um jornal que tem de ser de referência? Se querem aumentar o mercado e daí seguir para a almejada melhor qualidade, talvez seja de falarem com uma empresa de comunicação...
2 comentários:
O Público, tal como os outros jornais de referência, é liderado e influenciado parcialmente por uma classe de jornalistas que entrou para os media depois de 1974, proveniente dos movimentos de extrema esquerda que, nessa altura, tomaram as redacções. Essas pessoas evoluíram. Tornaram-se moderadas à medida que amadureceram e foram assumindo chefias delegadas e já não arrematadas. Tudo a favor. Alguns destes jornalistas deixaram-se mesmo aburguesar sentindo as vantagens das coisas e do compromisso. Mas, como recuerdo da pureza original, mantiveram um reduto de revolta pronto a accionar vibrantemente cada vez que duas ou três matérias são questionadas. A liberdade de imprensa, quando condicionada por uma tutela, é uma delas. Tudo a favor, de novo. O problema é que o mesmo escrúpulo que os leva a reagir tão energicamente - e bem - quando há ataques à liberdade de imprensa - fazendo reviver os melhores anos de combate revolucionário - nem sempre é aplicado quando estão em causa outros atentados à independência do jornalismo. Isto é: ninguém de fora pode afectar a liberdade dos jornais mas estes, internamente, podem formatá-la por vezes sem a cumprirem. Aqui entra a guerra das virtudes: as comissões de regulação pensam que têm autoridade moral sobre o trabalho dos jornalistas porque «são independentes» dos interesses a que a escrita se refere; os jornais pensam que ninguém é mais independente do que eles e que qualquer juri representa o regresso da mordaça do fashismo. Ambos são falíveis, como todos nós. E ambos devem competir neste campeonato de imparcialidades. Todos temos a ganhar. Podemos talvez é dispensar o alarido e evitar nas primeiras páginas este corporativismo mental que parece usar o melhor espaço em proveito próprio.
Quando se lê fashismo, leia-se fachismo, evidentemente. Erro meu.
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