Jornais de Referência
Na ultima edição, o Semanário o "Sol", escreve numa coluna, a propósito de Egas Moniz, o seguinte: Neurocirurgião português, Prémio Nobel da Medicina em 1949, fez há 80 anos a primeira angiografia cerebral, tratamento revolucionário para a época, mais tarde considerado desumano, e que levou grupos de pressão a exigiram a retirada do Nobel."
Em 4 linhas, 4 erros factuais grosseiros. A saber:
1 - Egas Moniz não era neurocirurgião.
2- A angiografia não é um método terapêutico, mas sim de diagnóstico.
3 - Ainda hoje é utilizado apesar das técnicas computorizadas.
4 - A técnica terapêutica controversa que lhe valeu o prémio Nobel foi a leucotomia.
Esta nota é sobre assunto que conheço bem. Imagino, pela amostra, o número de erros em matérias que não domino. A falta de preparação técnica de muitos jornalistas com quem tenho contactado é escandalosa. Querem a verdade: Em Portugal não há jornais de referência.
6 comentários:
Recordo-me um artigo de página inteira, na página 2 do Expresso, aquando do afundamento do Prestige. Numa só página dizia-se, entre outras coisas: (1) que o Prestige estava afundado a 3000 km de profundidade; (2) que era improvável que o derrame atingisse Portugal porque os ventos para Norte eram de 10km/s; (3) que a carga do Prestige era de 300 milhões de toneladas.
Espantoso. Em qualquer dos casos conseguiram errar por um factor de 1000. 3000 km é meio caminho entre a superfície e o centro da Terra; as dossas das Marianas têm cerca de 12km de profundidade. Queria dizer-se 3000 m). 10 km/s são 36.000 km/h. Que rajadas seriam! Queria dizer-se 10m/s. E 300 milhões de toneladas de petróleo? Como será o clima no planetra do senhor que escreveu estas imbecilidades?
Isto foi no Expresso. O mais impressionante é que são meras questões de bom (ou mau) senso...
Pois podem então imaginar o meu espanto com as notícias sobre Economia e com os vários "modelos" sobre as causas do desenvolvimento económico das nações estendidas pelas páginas dos nossos jornais. Enormes motivos de inspiração para mim, devo dizer.
Na sequência do que disse o Pedro Lains pode-se imaginar o meu espanto (e horror) em relação a quase tudo o que se diz sobre Direito, a Europa, a ciência, a História...
Lembro-me de um jornalista famoso que disse, num porgrama sobre biotecnologia "vários tipos de bactérias, nomeadamente vírus..."
Mais uma vez é o problema da sindicância.
Compreendo, perfeitamente, a sua indignação. Em matérias judiciárias a pobreza jornalística é a mesma. É escandalosa a quantidade e gravidade de alguns (muitos) erros detectados.
Para entrar na onda, aqui vai uma história com alguns anos (não muitos). Um desses jornais de referência ocupou meia primeira página com um artigo em que nos informava que um instituto de Cambridge (e não da Cambridge Cambridge University...) tinha considerado um certo português (cujo o nome também não menciono…) um dos 100 intelectuais mais importantes do século. Acontece que esse "Institute" é conhecido de muitos de nós académicos pelas cartas que nos envia todos os anos informando-nos de como somos intelectualmente reconhecidos internacionalmente… Na mesma carta pergunta-nos se desejamos comprar um certificado atestando esse "reconhecimento internacional" para enviar aos nossos amigos ou expor no nosso escritório… Em Portugal, isto foi levado a sério quer pelo "homenageado" quer (ainda pior) pelo jornal de referência. Este, não apenas não verificou que Instituto era esse (basta a palavra Cambridge pelos vistos), como conseguiu transformar uma "anedota" numa notícia de primeira página…
Caro Miguel Maduro: reconheci o caso pela descrição que fez. Fiquei sem palavras na altura.
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