Em nome do Pai
Permitam-me que desça das musas ao teatro (que é como quem diz: permitam-me que «poste» num registo menos elevado). Mas não resisto a comentar a espuma dos dias e em particular dois assuntos:
1 – «Em declarações ao NME, Keith Richards revelou ter snifado as cinzas do próprio pai. Conhecida a sua dependência de drogas, o guitarrista dos Rolling Stones revelou o feito da seguinte forma: A coisa mais estranha que tentei snifar? O meu pai. Snifei o meu pai. Ele foi cremado e eu não consegui resistir (...) O meu pai não se teria importando, estava-se a lixar. Desceu muito bem e ainda estou vivo».
Muito a sério: como avaliar a dessacralização da morte numa sociedade que, por um lado se deixou de «vivê-la» com a naturalidade com que era tradicionalmente «vivida» nos meios rurais mas que, por outro lado parece apostada em rejeitar em absoluto a própria ideia do sagrado? As minhas perplexidades são muito maiores do que as minhas certezas.
2 – A paróquia anda entretida a discutir as responsabilidades do Benfica, do Porto e da PSP nos bárbaros incidentes do último fim-de-semana no estádio da luz. Será que não ocorre a ninguém que a primeira responsabilidade é de cada um dos autores individuais dos actos de vandalismo perpetrados? O simples facto de esta discussão se fazer totalmente «ao lado» diz muito sobre o valor que as nossas modernas sociedades atribuem à responsabilidade individual. Sinais dos tempos
1 – «Em declarações ao NME, Keith Richards revelou ter snifado as cinzas do próprio pai. Conhecida a sua dependência de drogas, o guitarrista dos Rolling Stones revelou o feito da seguinte forma: A coisa mais estranha que tentei snifar? O meu pai. Snifei o meu pai. Ele foi cremado e eu não consegui resistir (...) O meu pai não se teria importando, estava-se a lixar. Desceu muito bem e ainda estou vivo».
Muito a sério: como avaliar a dessacralização da morte numa sociedade que, por um lado se deixou de «vivê-la» com a naturalidade com que era tradicionalmente «vivida» nos meios rurais mas que, por outro lado parece apostada em rejeitar em absoluto a própria ideia do sagrado? As minhas perplexidades são muito maiores do que as minhas certezas.
2 – A paróquia anda entretida a discutir as responsabilidades do Benfica, do Porto e da PSP nos bárbaros incidentes do último fim-de-semana no estádio da luz. Será que não ocorre a ninguém que a primeira responsabilidade é de cada um dos autores individuais dos actos de vandalismo perpetrados? O simples facto de esta discussão se fazer totalmente «ao lado» diz muito sobre o valor que as nossas modernas sociedades atribuem à responsabilidade individual. Sinais dos tempos
2 comentários:
Faltou dizer que snifou as cinzas do pai «misturadas com coca». Em abono da verdade, embora porventura tal não faça diferença nenhuma.
Não sei exactamente que mais surpreende, se a nossa muito hodierna e up to date credulidade na letra impressa, se a nossa incapacidade de compreensão do mais imediato e simples humor, negro seja.
Não afirmava já Hegel, há anos anitos atrás, ter-se transformado a leitura das notícias da manhã na oração matinal de outrora _ ou algo semelhante?...
Bom guitarrista, o Keith, sem dúvida. Rocker a sério, dos antigos. Daqueles que queriam viver rápido e intensamente, sempre no limite de não se sabe bem o quê. Ou, melhor e mais inteligentemente ainda, com essa imagem... Ah!, o gozo que não lhe deve dar andar a gozar os pobres dos jornalistas, mesmo os mais sérios, mesmo _ou sobretudo, _os de referência, como os do New Musical Express.
Dessacralização da vida? Sem dúvida. Mas não atribuamos tanta culpa ao Keith. Por mais Sympathy for the Devil que já tenha mostrado, isso de dizer que snifou coca à mistura com as cinzas do pai, até tem a sua piada, em seu contexto. Muito britânica piada, é certo, mas piada. Afinal, não é o humor, britânico ou não, essencialmente, o riso da morte?...
Não, não devemos crer em tudo quanto vem escrito nos jornais. Que Keith Richards haja dito o que vem escrito como tendo dito, é aceitável. Que haja feito o que terá dito ter feito, é de duvidar _ ou naõ?...
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