Quem pode invocar o nazismo?
A
colecta de grandes espíritos do nosso tempo gosta de acabar a sua argumentação
com um finale estrebuchante: lembrem-se do nazismo. Como tudo é racismo e os
nazis eram racistas aquilo que condenam está próximo do nazismo. Sentem que
fizeram uma brilhante demonstração e não são contraditados. Uns porque os acham
uns doidos furiosos outros porque se deixam convencer com argumentos tíbios.
Para
sabermos quem pode invocar o nazismo temos de ver quem exploraram os nazis, quem
eles perseguiram, em suma a quem eles provocaram sofrimento. Não quem eles
desprezaram. Se fosse este o critério então os negros, mas também os
portugueses e os espanhóis teriam razões para invocar o nazismo. Mas também os
antigos germanos, cuja cultura nunca impressionou Hitler, apaixonado pela
civilização grega e romana e não pelos vestígios arqueológicos germânicos.
Deixemos,
pois, os desprezados e vejamos quem não sofreu com o nazismo.
Os
africanos para começar. Os nazis desprezavam-nos, mas não os exploraram. Os
ingleses com a sua generosidade habitual estavam dispostos a devolver-lhes a
África alemã basicamente o Togo Land, mas também Angola, que já tinham
oferecido aos alemães antes da I Guerra Mundial e voltaram a oferecer antes da
II Guerra Mundial. Os nazis não queriam explorar os africanos. Os negros podem
ficar descansados, não podem invocar o nazismo.
Os
muçulmanos também não podem invocar o nazismo. Tanto turcos como árabes foram
sempre bem recebidos pelos nazis. Nas SS não havia capelães militares, porque a
ideologia nazi odiava o cristianismo. Mas havia duas divisões SS muçulmanas, a
Scanderberg e Handschar. E nestas por excepção havia imãs como capelães
militares. Os nacionalistas árabes eram conhecidos por adorar Hitler como um
dos seus ídolos e na Turquia o «Mein Kampf» desde sempre foi sucesso de vendas.
Os muçulmanos, seja árabes seja turcos, não podem invocar o nazismo, nomeadamente
quando se dedicam alegremente a discursos anti-semitas.
Os
judeus podem invocar o nazismo? Os askhenazis os judeus da Europa
Central e Oriental, sem dúvida. De forma gritante. Quanto aos sefaradis ,
os que têm origem no Sul da Europa, a matéria já é mais turva. Houve vários
judeus holandeses que tiveram a condenação suspensa porque os nazis hesitavam
entre considerá-los judeus... ou portugueses. E devolvê-los a Portugal.
Os
ciganos sem dúvida. De forma gritante.
Os
católicos e muitos aristocratas também, porque foram perseguidos por serem o
que eram. Uma das acusações contra as ordens religiosa era a de que favoreciam
a homossexualidade e a pedofilia. Os nazis têm muitos herdeiros na nossa época.
Quem
mais pode invocar o nazismo? Quem exploraram os nazis, quem queriam ter como
mão de obra escrava que territórios queriam colonizar, que povos queriam ver
reduzidos em reservas tribais e de preferência ir extinguindo aos poucos? As
escolas não ensinam e os jornalistas não percebem. Mas do que não percebem os
jornalistas é um vasto campo, como dizia Fontane.
Quem?
Povos louros de olhos azuis, arianos de raça e de língua. Os eslavos. Os
projectos de colonização não se dirigiram contra a África, a Ásia, seja a
Turquia seja a Índia ou a China. Mas contra a Europa de Leste, até à Rússia
incluída. Quem pode invocar o nazismo são os muito louros e arianos eslavos.
Deixemos,
pois, repousar os que invocam o nazismo quando não o podem. Alguns seguem mesmo
ideias nazis sem o saberem. Deixemo-los descansar em paz porque o seu cérebro
já se nos antecipou no ensejo. E quando os virmos invocar o nazismo em conjunto
com o racismo fiquemos consolados em perceber que estes não são os piores males
do mundo, mas antes a estupidez.
Alexandre
Brandão da Veiga
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