terça-feira, 30 de julho de 2013

Não gostei



Admirável força evangélica na simplicidade dos modos, na ausência do medo, no desejo de transparência, na exigência de Justiça, na sã frontalidade e no regresso aos primeiros valores e à pureza da palavra Esperança.
Falo da visita do Papa Francisco que também convoca os portugueses descendentes dos criadores do maior País do mundo católico. Foi impressionante ver três milhões de pessoas em Copacabana. Apenas João Paulo II tinha ultrapassado esta fasquia em Manila, na missa com quatro milhões de filipinos.
Mas não gostei de ouvir o Papa dizer que a ordenação das mulheres era um dossier fechado por causa de João Paulo II. Sugeriu que estava cativo de uma má herança. Saberá, como todos nós, que nenhum Papa desautoriza o anterior. Também João Paulo II ficou vinculado à Encíclica de Paulo VI na polémica questão do preservativo. E não se queixou. Gostava de estar enganada. Se estiver, ajudem-me a pensar melhor.

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Temos de ser abertos e flexíveis?

Ouçamos com ouvido atento, mesmo que ferido por tão dissonantes melopeias, o que diz o transeunte. Como os homens públicos são hoje em dia os filhos das compoteiras, transeuntes relapsos, ouçamos o que nos dizem mais uma vez. “Temos de ser abertos, temos de ser flexíveis”. São duas versões de uma mesma cantiga, a primeira mais de uso na cultura, a segunda mais na gestão pública e privada, ambas na política.
 
A primeira pergunta que se nos oferece é a seguinte: quem disse isso? Quem se atreveu a impor tal imperativo moral? Quem lançou tal boato?
 
A segunda questão que se nos deve colocar é a do paradigma que subjaz a estas ideias. A ideia de abertura, por mais que custe a quem me ouve, tem o seu assento na metafísica, a da flexibilidade na biologia. Mais uma prova de que o homem público recolhe vindo não sabe de onde conceitos que na sua boca mais não são que rumores, porque rumor é tudo de onde não se sabe a origem.
 
Existe um ditame que afirma que perante uma garrafa uns dizem que está meio cheia, outros meio vazia. Imagem impressiva, mas em última análise grosseira, porque se esquece que a melhor visão é a de que vê que metade terá dado prazer e a outra metade ainda poderá dar satisfação. São os cultores da abertura quem mais o cita, o que mostra a rigidez da sua visão.
 
A abertura ganha relevância intelectual sobretudo com Heidegger. Antes dele ninguém se atreveria a dizer com ar solene que temos de ser abertos, sob pena de os interlocutores acharem que o autor de tais palavras pretendia ser objecto de cirurgia ou teria desejos mais ou menos inconfessáveis. Não querendo comparar os medíocres imitadores com o genial persuasor, a verdade é que no pensamento actual a abertura recolhe todas as pudicícias do pensamento de Heidegger. Ao ver a existência como abertura, na mesma esteira em que dizia que nunca poderemos atingir o centro da clareira (pois não, é uma inevitabilidade estarmos nele), o católico Heidegger, católico arrependido, pudibundo em relação à sua matriz, lançou uma semente de infantilismo que o mundo seguiu com alegria.
 
Aberto por excelência é o recém-nascido. Mais nenhuma idade da vida tem tantas possibilidades abertas. Porque a abertura é flutuar nas possibilidades, e não persistir nas realizações. Um recém-nascido pode ser das coisas mais ternurentas do mundo, mas é um incapaz, tenhamos a coragem de o reconhecer. Não se pode contar com ele para nos proteger, para nos sustentar, para ser um esteio da nossa vida. É evidente que seria demais exigir tal coisa de um recém-nascido. Mas quando adultos vivem só na abertura, abertos para o mundo, atiram-se a possibilidades apenas como forma de não terem de responder pelas suas realizações. Basta-lhes dizer que são abertos para se sentirem imediatamente no direito de serem absolvidos pela falta de qualquer obra.
 
Em termos militares é o que se chama uma diversão. Desvia-se a atenção dos outros para a nossa nulidade presente e passada mostrando o infinito de possibilidades que está à nossa frente.
 
A prova da imensa má fé deste tipo de atitude é que realmente acabam por ser abertos. Mas, destituídos, ainda e sempre de critério, acabam por estar abertos para o que de mais medíocre, indigno, trivial, tem a existência humana. Como o excelente carece de escolha dura, é-lhe mais fácil manter uma atitude de abertura. Sem mais. Mas quem está nesta atitude está parado, não deixa lastro, é mero destinatário da sua própria inércia.
 
Abertos sempre a outras culturas para as quais esperam que ninguém tenha competência para os julgar, abertos para outros modos de vida que não se dão ao trabalho de estudar. O homem pura e simplesmente aberto é o herdeiro tonto do cristianismo. Não recebe os publicanos e as prostitutas porque recusa uma pureza meramente ritual, ou como acto de amor. Recebe geralmente só publicanos e prostitutas porque em boa parte sabe que eles não o podem julgar, porque isso lhe dá um sentimento de superioridade.
 
Porque o adulto é sempre alguém que fechou possibilidades. Escolheu uma profissão e não outra, um parceiro e não outro, uma aprendizagem e não outra. Se for equilibrado, e sobretudo se for completo, manterá sempre o maior grau de abertura compatível com a realização de obra. Mas quem faz uma casa não pode ao mesmo tempo estar a jogar xadrez.
 
A flexibilidade tem o seu paradigma na biologia. No entanto, os animais superiores são-no exactamente porque têm zonas de flexibilidade e outras de dureza. Se os ossos fossem apenas flexíveis não nos moveríamos: arrastávamo-nos, ou melhor, esparramávamo-nos.
 
Não deixa de ser curioso que as pessoas que mais invocam este argumento sejam pessoas sem grande coluna, sem grande postura moral. Invocam como imperativo categórico o que nelas é uma inevitabilidade, o que mais não podem ser. Dão-se o mérito de uma naturalidade de invertebrados, quando essa naturalidade é apenas sinal de impossibilidade de escolha de melhor.
 
Desçamos um pouco à terra, ou melhor, falemos agora na linguagem chã do homem público para que ele perceba alguma coisa.
 
Quando se fala de uma Europa aberta, de uma Europa que deve ser aberta, sou o primeiro a concordar. Mas na medida em que seja aberta mas concentrada nas suas realizações, ou seja, fechada igualmente. Adulta, portanto. Uma Europa aberta não significa abrir-se ao ponto de receber os países deserdados da História só porque o são, só porque conseguiram o ódio ou o desprezo dos vizinhos como único legado histórico e quando muito a piedade da Europa. Quando se diz que temos de receber toda a miséria do mundo quando os Estados Unidos, a Austrália e o Canadá escolhem criteriosamente quem para eles emigra. Quando temos de estar abertos a qualquer indignidade desde que coberta por tradições mais ou menos vetustas, que o são apenas por falta de imaginação dos povos que as consagraram. Quando ao mesmo tempo estes que se dizem abertos, abrem-se ao sofrimento dos animais e a outras culturas que lhes provocam o sofrimento e vivem assim nessa abstrusa contradicção. Quando se diz que temos de ser flexíveis e aceitar entorses às leis, desvios em relação a planos equitativos e bem planeados, apenas porque nos temos de adaptar à realidade. Como se a realidade não fosse também qualquer coisa que tivéssemos o poder de adaptar às nossas exigências.
 
Quando se diz tudo isto em nome da abertura e da flexibilidade, e no espaço público vemos invocar tamanhos dislates, podemos perceber qual a alma e a anatomia dos defensores de tais despautérios. Infantilizados mimando recém-nascidos, merecendo-nos a mesma confiança que temos nos bebés, e menor ternura, esparramados na sua própria inércia, os flexíveis e abertos são apenas criaturas que fogem às suas responsabilidades, que traficam com influências porque para eles a vida é apenas tráfico. Entre os grandes não vemos nem essa abertura nem essa flexibilidade. Vemos antes teimosos, obstinados. Carlos Magno, Alexandre, César, Henrique IV, De Gaulle, Churchill negociaram com a realidade, adaptaram-se a ela, mas antes do mais forçaram-na, recusaram ser abertos ou flexíveis. Perante inércias ou iniquidades, jogos de interesses instalados e livres expressões de outras culturas, impuseram um paradigma, porque o julgaram, porque o sabiam melhor. Serôdios herdeiros de um cristianismo mal digerido, instalado em almas pouco preparadas para criticar a sua má aplicação, os abertos e flexíveis apenas sabem construir obra à sua imagem: mole, irrelevante, fugaz. O seu paradigma é Pasqualis que se opôs a Carlos Magno. Quem se lembra dele? Apenas os mesmos que se lembrarão de Carlos Magno em estudo minucioso. Por comparação entre o grande que exista ou venha a surgir, o mero contraponto da mediocridade sorridente.
 
Alexandre Brandão da Veiga

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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Trovas antigas


Um pouco por todo o lado, deu-se a revolta contra Paulo Portas perante a atitude da passada semana. Compreende-se. Entre todos, destacaram-se os adversários adormecidos que, pensando Portas morto politicamente, vieram a terreiro dizer finalmente o que pensavam. Luís Nobre Guedes, Pedro Santana Lopes, Manuel Monteiro, José Ribeiro e Castro e Durão Barroso falaram. Faltava Cavaco Silva. Parece que as questões pessoais tardam mas não falham. A que preço.

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O Secretário da Junta

Quem manda aqui sou eu.
Não há maioria, nem representação política organizada em partidos.
Nem erro nem correcção.
Eu não sou eu com a minha circunstância.
Eu sou eu. Que mando.

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